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"Cuidar (de nós e dos outros) até o mundo recuperar"

A pandemia covid-19, impôs-nos, de forma abrupta e inesperada, vivências diferentes daquelas que tínhamos antes e submeteu-nos a um constante lidar com a incerteza e com a dúvida, aos mais variados níveis. Estes tempos de crise, desafiantes e particularmente difíceis e sensíveis que enfrentamos, ampliam assim, significados pessoais e coletivos.
Tanto ao nível pessoal, como coletivo, as diferentes exigências, desafios e obstáculos com que nos vamos confrontando exigiram adaptações e reorganizações tanto ao nível familiar como profissional. Todos fomos forçados a desacelerar, a recolher, ficar em casa e priorizar a saúde, a família e a vida. As políticas adotadas são excepcionais e a prioridade é cuidar de nós e dos outros. Os cuidados são assim promovidos como a melhor medida de nos protegermos/defenderemos e de proteger/defender os outros. O bem-comum, a solidariedade, o civismo e o respeito pela vida e por todos assumem-se como compromisso para o bem-estar coletivo. A mobilização social e os cuidados uniram as pessoas. A consciência, o respeito, o altruísmo cívico, os comportamentos pró-sociais, os auto e hetero cuidados podem salvar-nos, agora (e sempre).
A primordial importância da saúde pública e do sistema nacional de saúde, para o país e para todos, deverão fazer repensar os decisores políticos a não olhar a custos neste setor de atividade e a reforçá-lo, investindo também na saúde psicológica, que no pós-pandemia será uma área prioritária, no sentido de uma resposta à crise, que devido ao seu impacto negativo na economia e ao impacto psicológico se pode revelar uma ajuda importante para que o país recupere em menos tempo, com menos sofrimento e com menos custos.
Todas as complexas situações que se verificaram com os grupos de maior risco, vêm reforçar os paradigmas vigentes da desinstitucionalização, que fazem agora mais sentido que nunca. O estado não deveria delegar noutros estas funções e cuidados. As políticas sociais de proteção à parentalidade e à família terão de ir nesse sentido, assim como uma maior conciliação entre a família e o trabalho. A educação e os currículos também deveriam ser mais adaptados à realidade, à cidadania, priorizando o bem-estar, a gentileza e compaixão, o ambiente e a solidariedade. Sendo que ao nível do emprego, talvez sejam necessárias as maiores mudanças. A economia do país, a retoma, a recuperação e a resposta à crise precisam (e não se fazem sem) dos trabalhadores. Há que defender os seus direitos, investindo no seu bem-estar e promovendo locais de trabalho saudáveis, com o foco na saúde física e mental do trabalhador, proporcionando-lhe um ambiente de trabalho mais agradável, positivo e uma melhor qualidade de vida . O teletrabalho, entre outras medidas, estratégias e recursos agora "redescobertos", podem fazer parte do futuro, com horários, adaptações e opções mais saudáveis e benéficas para todos.
De uma forma geral, e salvo raras exceções, as atitudes altruístas, compassivas, proativas e responsáveis têm marcado estes dias. É também adaptativo manter estes comportamentos. Verifica-se ainda uma maior literacia e procura de informação credível, junto das fontes oficiais. E é importante mantermos-nos informados, no sentido de percecionarmos os riscos e irmos gerindo (da melhor forma) a situação. Todos temos de lidar com uma realidade nova em que o atualizar da informação nos vai dando mais certezas, segurança e melhora a nossa capacidade de resposta.
Neste recolhimento/confinamento, a nossa pirâmide das prioridades e valores, talvez tenha sofrido alterações. Muitos de nós andamos habitualmente (e quase exclusivamente) em "piloto automático" e distraídos do que verdadeiramente interessa. Esta tomada de consciência é também uma forma de nos mantermos saudáveis sob o ponto de vista físico, emocional e psicológico e de avaliarmos o que realmente nos faz bem. Albert Einstein dizia que "Talvez a liberdade mais fundamental que alguém tenha seja a capacidade de escolher onde colocar a sua atenção." Foquemos então o que realmente importa, para recuperarmos e conquistarmos maior liberdade e bem-estar.
A lógica é de nos protegermos mutuamente, a contribuição tem de ser de todos, todos contam. Há que instigar os outros para ações e comportamentos protetores e conscientes, benéficos, saudáveis e úteis… e confiar...Todos temos estratégias eficazes para lidar com este momento exigente e que em algum momento da nossa vida fizeram a diferença e foram eficazes.
Cuidemos de nós (e dos outros).
Que todas estas aprendizagens e valores se mantenham, quando o mundo recuperar!
Por enquanto, nunca é demais lembrar frases feitas..."estamos todos no mesmo barco"..."a união faz a força"..."e tudo passa"..." E "todos juntos venceremos".
Gratidão a todos os profissionais da "linha da frente" pelo sentido de missão.
Texto de Susana Amaral, Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia do Trabalho, Social e Organizações
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