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Coronavirus: Que cuidados devem ter as pessoas com diabetes?

Em entrevista ao esquerda.net, José Manuel Boavida, médico e presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, explica que cuidados devem ter as pessoas com diabetes face à pandemia do Covid-19.
Coronavirus: Que cuidados devem ter as pessoas com diabetes?

Em entrevista ao esquerda.net, José Manuel Boavida explica que cuidados específicos devem ter as pessoas que vivem com diabetes em relação à pandemia do novo coronavírus, o Covid-19.

A Associação Protectora dos Diabéticos Portugueses recomenda às pessoas com diabetes que reunam em casa "medicação para três meses", garantindo sempre o controlo da glicémia, para além de seguirem à risca as recomendações da Direção Geral da Saúde.

Porque é que se fala tanto de diabetes quando falamos do Covid-19?
Porque se percebeu desde o início que as pessoas mais frágeis são as mais idosas. E dentro das pessoas com mais idade estão as pessoas que têm doenças de coração, doenças dos pulmões ou diabetes. Dizendo isto, os números não são tão altos como às vezes se pensa. O que sabemos hoje é  que a população acima dos 60 anos é a que tem mais risco de poder vir a ter complicações graves, recorrer aos cuidados intensivos e portanto ter alguma infelicidade de poder vir a morrer. Mas mesmo estes números, dentro desta população atingida, não ultrapassam os 15% dos que tiveram doença e portanto é preciso não correr em alarme, mas prevenirmo-nos e sabermos aquilo que podemos fazer.

E o que podem fazer as pessoas com diabetes?
Temos vindo a dizer às pessoas com diabetes acima dos 60 anos que sigam as instruções que são dadas pela Direção-Geral da Saúde e pelas autoridades de uma forma ainda mais rigorosa do que aquilo que poderão estar a fazer, ou seja, devem levar à letra todas essas indicações - desde o lavar as mãos, ao descalçarem-se quando voltam para casa, eventualmente se esteve em contacto com outras pessoas mudar a roupa, evitar a proximidade, os cuidados sempre que tosse ou sempre que espirra – enfim, todos esses cuidados que têm sido dados são absolutamente mais rigorosos. Eu pessoalmente penso mesmo que só devem sair para um pequeno passeio, ou para ir comprar os bens absolutamente essenciais. E esse pequeno passeio terá de ser individualmente e numa zona resguardada, e portanto não com uma grande afluência de pessoas.

Há algum tipo de diabetes que torne as pessoas mais vulneráveis?
Não há neste momento qualquer estudo que diga que tipo de diabetes é mais relevante ou não. Aquilo que sabemos é que há um risco e que esse risco pode ser prevenido se tivermos condições para levar a cabo tudo aquilo que foi designado.

O que é que a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal recomenda a quem faz quarentena? 
A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal recomenda neste momento que se tenha medicação para três meses em casa, isso é absolutamente fundamental. Em relação à medicação, deixem-me que diga que houve algum alerta e algum alarme de muitas das falsas notícias que correm: não existe absolutamente nada contra os medicamentos para a diabetes, as pessoas devem ter a sua medicação habitual e obviamente devem ter um controlo maior da doença. Além disso, as pessoas não se podem esquecer de beber líquidos, principalmente se a temperatura aumentar, e de terem um controlo adequado da diabetes e para isto precisam de medir a glicémia. É preciso ir acompanhando como é que ela evolui, e se começarem a perceber que existe uma descompensação, devem telefonar ao seu médico ou, se já que medidas tomar em caso de emergência, devem acioná-las. 

Se vamos fazer quarentena temos de saber organizarmo-nos para que esta possa ser eficaz. E aqui temos de contar com a rede de vizinhos, de amigos ou de familiares para que lhes levem os alimentos que sejam necessários.  E as pessoas com diabetes devem ter a preocupação de ter a medicação necessária. A organização ao nível local também vai ser muito reforçada nos próximos dias. A Direção Geral da Saúde e o Ministério da Saúde já falam na distribuição ao domicílio de alimentos, há quem comece a organizar também a distribuição de alimentação ao domicílio e portanto há que estar atento a todas esta notícias. Não é fácil estar em casa e por isso devemos fazer um esforço de organização, estipular exercícios físicos para fazer, estipular tempos para leitura, tempos para informação, tempos para contactar com a família através do telefone ou da internet. Há que organizarmo-nos para que este período seja mais fácil de passar e em segurança, prevenindo toda e qualquer complicação que possa aparecer. As pessoas com diabetes serão aqui iguais a todas as outras, tendo que tomar todas as precauções, mas acima de tudo, as pessoas com mais de 60 anos devem tomar cuidados mais rigorosos porque é a sua vida, a sua saúde e o seu bem estar que está em jogo.

E se observarem sintomas? 
As pessoas devem reconhecer os primeiros sinais e sintomas e não devem ir a correr ao hospital só porque tiveram contacto com um possível grupo de pessoas infetadas. Devem esperar. Neste momento ir para os hospitais, ou para todos os sítios onde existam muitas pessoas, é uma situação de risco e portanto deve-se evitar. Devem ligar para a linha de Saúde24 para tentar encontrar a solução, a melhor indicação para onde se dirigir. Atenção que às vezes esta linha demora, há que ir repetindo a tentativa de chamada. Todos os dias tem estado a aumentar a capacidade de resposta da linha e aí será dada a orientação se é para fazer análises, se é para ficar em casa, se é para recorrer a um hospital.

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