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Compra da Monsanto pela Bayer: Um dia trágico para a nutrição mundial

O pior dos cenários realizou-se: a Bayer comprou a Monsanto por 66 mil milhões de dólares. O facto dá origem ao que é, de longe, a maior corporação de agronegócio do mundo. Comunicado da Coligação contra os perigos da Bayer, datado de 19 de setembro.
Por Eric Drooker.

Segundo os resultados financeiros de 2015, as duas empresas têm um volume de negócios combinado de 23,1 mil milhões de dólares. Ninguém do ramo pode igualar-se a elas. Os jovens casais Syngenta / ChemChina e Dupont / Dow as seguem de longe (14,8 e 14,6 mil milhões de dólares, respetivamente), e a Basf está relegada ao quarto lugar, com 5,8 mil milhões de dólares.

A Bayer e a Monsanto controlam, juntas, cerca de 25% do mercado mundial de pesticidas; e de 30% das vendas de sementes agrícolas — tanto as geneticamente modificadas quanto as convencionais. Considerando-se somente as plantas transgénicas (OGM), as duas corporações juntas atingem uma clara posição de monopólio, com mais de 90%.

“Com a aquisição da Monsanto pela Bayer, a concentração no mercado do agronegócio atinge um novo pico. Os elementos chave da cadeia alimentar estão agora nas mãos de um só grupo. Os agricultores devem preparar-se para pagar preços mais altos e também terão menos escolhas. Além disso, deve piorar ainda mais o bloqueio à inovação no setor, especialmente para os herbicidas”, criticou Toni Michelmann, da Coligação contra os perigos da Bayer (CBG). A organização de defesa dos consumidores SumOfUs também assumiu posição contra a compra da Monsanto. “Esta aquisição é uma ameaça ao nosso abastecimento de alimentos e a todos os agricultores do mundo”, declarou Anne Isakowitsch. “Não surpreende, portanto, que mais de 500 mil dos nossos membros tenham assinado uma petição contra essa compra”.

Michelmann anunciou que a CBG quer aproveitar o Tribunal Monsanto, previsto para outubro, em Haia, para articular-se com as diversas iniciativas contra a Monsanto e redirecionar a partir de agora a resistência, centrando-a sobre a Bayer. A primeira ação coletiva prevista pela coordenação ocorrerá na próxima assembleia geral da multinacional de Leverkusen, no Parque de exposições de Colónia, na Alemanha, em 28 de abril de 2017. “A lista de oradores dificilmente se esgotará num só dia. A Bayer pode, por precaução, reservar também o dia 29 de abril”, recomenda Michelmann à multinacional. Ele mencionou ainda uma “Marcha contra a Bayer”, que será dirigida a Leverkusen.

“O grupo pode esperar desde já o aumento da pressão contra si. Pressão contra uma política comercial que finge lutar contra a fome, mas aposta sobretudo nas monoculturas de soja e de milho para alimentar a pecuária industrial e que, com os seus pesticidas, coloca em perigo polinizadores como as abelhas, tão importantes para as culturas aráveis. Uma política comercial que se baseia em tecnologias de risco como manipulações genéticas, uma política que, ao invés de procurar alternativas, leva mais e mais venenos para o campo”, afirma o químico.

Segundo a Coligação, os políticos devem agir. E não é possível contentarem-se com procedimentos cosméticos por parte da Comissão Europeia para a Concorrência. Não bastam pequenas medidas, como separar-se do setor algodoeiro ou livrar-se de certos pesticidas, especialmente porque a Basf já está de olho nesse tipo de produto. Os políticos devem também levar em conta o impacto sobre o emprego e o regime fiscal. Não é possível que a Bayer obtenha deduções fiscais para essa aquisição, e as cidades onde se encontram as suas indústrias fiquem numa penúria ainda maior. Também é excluída desde já qualquer tentativa, por parte da empresa, de reduzir a dívida contraída pela operação de compra com o corte de empregos e medidas de reengenharia.

Axel Köhler-Schnura, da CBG, conclui: “O cínico jogo de poker em torno da Monsanto, animado por pura cupidez, mostra mais uma vez que a alimentação do mundo é uma questão séria demais para ser deixada nas mãos dos gigantes do agronegócio. O que a Coligação contra os perigos da Bayer recomenda, portanto, é colocar as grandes empresas sob controlo social.”

 


 

Tradução: Inês Castilho para o Outras Palavras.

Artigo original publicado em http://www.cbgnetwork.org/6893.html

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