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Chile: Piñera passa do liberalismo guerreiro ao novo pacto social dialogante

No Chile, os protestos continuam. Depois de mandar tropas contra manifestantes, impor o estado de emergência e dizer que o país vivia uma “guerra contra um inimigo poderoso”, o milionário presidente chileno promete agora diálogo social e medidas diferentes da receita liberal que conduziu o país até aqui.
Protesto no Chile. Outubro de 2019.
Protesto no Chile. Outubro de 2019. Foto de CinemaChile/Twitter.

Depois da quarta noite seguida de protestos no Chile chegou um balanço oficial: 15 mortos, centenas de feridos e mais de 2600 presos. Esta terça-feira, o sub-secretário do Interior, Rodrigo Ubilla, apresentou estes números ao mesmo tempo que tentava culpar as vítimas, jurando que “todos estão associados a fogo posto e saques principalmente de centros comerciais”.

Por sua vez, o chefe militar chileno, o general Javier Iturriaga, classificou a noite passada como tendo sido “mais tranquila” do que as anteriores tendo deixado em tom de ameaça a frase “não provoquem as forças de segurança”. Mas as barricadas continuaram e as pessoas saíram às ruas desafiando o recolher obrigatório. As manifestações em Santiago, Antofagasta, Osorno e Punta Arenas foram pacíficas e concorridas. Contudo, a CNN Chile deu conta de disparos de militares em Recoleta, no norte de Santiago, contra manifestantes pacíficos. Facto confirmado pelo alcaide, Daniel Jadue.

A onda de contestação iniciou-se na passada sexta-feira em Santiago do Chile devido à proposta de subida dos bilhetes de metro e estendeu-se depois a todo o país. Terá sido a gota de água que fez transbordar o copo da insatisfação contra o modelo liberal apresentado como sendo um sucesso mundial.

Piñera da retórica da guerra ao novo pacto social

Esta terça-feira, o presidente Sebastián Piñera vai encontrar-se com a oposição em busca de “um acordo social”. Acossado, promete agora baixar o preço dos medicamentos, reduzir listas de espera nos hospitais, rever pensões e salários, regular preços da eletricidade e portagens.

Uma atitude bem diferente da que assumiu no início do conflito social quando impôs o estado de emergência e enviou os militares para as ruas. Se agora falar em “abrir de par em par os caminhos do diálogo” antes dizia “estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém e que está disposto a usar da violência e delinquência sem nenhum limite”. Declarações que mereceram reparos até do general Iturriaga que disse não estar em guerra com ninguém e do presidente do Senado, Jaime Quintana, que disse é “tempo que volte a sensatez a La Moneda, que e acredito que a expressão do presidente foi o mais distante disso”.

O presidente milionário e a derrocada da iniciativa liberal chilena

Sebastián Piñera ocupa o sétimo lugar na lista de milionários do país e o 745º no mundo com uma fortuna de 2700 milhões de dólares ganhos, por exemplo, em transportes aéreos, supermercados, cartões de crédito e futebol.

Se estiver a ser sincero com as medidas que propõe para o seu novo pacto social, estará a acordar acabar com a receita ultraliberal que até agora aplicou com afinco e que resultou num país em “os chilenos pagam muito pelo sistema de saúde e geralmente têm que esperar longos períodos para serem vistos por um médico. A educação pública é pobre. As pensões, geridas por firmas privadas num sistema estabelecido pelo regime de Pinochet, são baixas”, escreve o jornal The Economist. Salários baixos, crescimento económico muito abaixo do prometido e galopante desigualdade social fazem também parte do pacote que os críticos afirmam que se disfarça por detrás de dados macroeconómicos mais favoráveis com que se tem vendido o “sucesso” do país.

 

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