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Centenas de milhares voltam a manifestar-se pela saúde pública em Madrid

Madrid voltou a levantar-se contra os cortes da direita na Comunidade e o caos que persiste depois da falhada reorganização das urgências pré-hospitalares. Segundo a organização, esteve um milhão nas ruas da capital, além das manifestações em Santiago de Compostela e em Burgos.
Uma multidão este domingo em Madrid. Foto das CCOO.
Uma multidão este domingo em Madrid. Foto das CCOO.

A 13 de novembro, um mar de gente tinha enchido a Praça Cibeles, em Madrid, para defender a saúde pública e contestar a política do governo da Comunidade de Madrid liderado por Isabel Díaz Ayuso. Este domingo, três meses depois, nova enchente com os mesmos lemas confluiu para o local a partir de quatro colunas que percorreram a cidade. A Delegação do Governo indica que foram 250 mil, os organizadores estimam mais de um milhão.

O que é certo é que a manifestação, convocada por mais de 70 coletivos com a palavra de ordem “Madrid levanta-se e exige saúde pública e soluções para o Plano de Cuidados de Saúde Primária”, foi massiva. Estas organizações protestam contra o caos na saúde lançado pelo governo regional de direita devido ao sub-financiamento da saúde, na comunidade mais rica do país, e a um plano de reestruturação das urgências não hospitalares que foram reabertas no outono depois da pandemia com falta de pessoal e com uma desorganização completa do sistema, o que aumentou listas de espera e tempos de espera, intensificou ritmos de trabalho, impôs sobrecargas de trabalho e criou situações caricatas como fazer centros de atendimento de urgência médica continuar a funcionar sem a presença de qualquer médico. Um dos coordenadores do protesto, José Luis Yuguero, na sua intervenção no final da manifestação disse mesmo que nos três meses que passaram desde o primeiro grande protesto “as coisas não deixaram de piorar”.

O manifesto que estas organizações de moradores, sindicatos, associações e movimentos de cariz diverso assinam, e que também foi lido nessa ocasião, denuncia que “a política de saúde da Comunidade de Madrid está orientada para garantir os lucros das empresas e dos lóbis da saúde, em vez de estar focada no cuidado de todas as pessoas e de garantir o direito à saúde”, que os centros de saúde prometidos pelo governo regional não foram construídos e não há obras naqueles que “estão a cair aos bocados”.

Foi ainda anunciado que o passo seguinte será uma consulta cidadã, a ocorrer entre os dias 20 e 26 de março, e que contará com mais de 2.000 mesas em toda a região.

Para além das manifestações, os médicos de família e pediatras madrilenos estão há mais de nove semanas em greve por tempo indefinido.

"Há quase um milhão de madrilenos sem médico de cuidados de saúde primária nem pediatra”

A esquerda política da capital do Estado Espanhol também marcou presença em peso. A porta-voz do Unidas Podemos em Madrid, Alejandra Jacinto, ao El Diário, criticou Ayuso por esta se ter apressado a tentar capitalizar a seu favor as palavras de Eulalia Ramón, viúva do realizador Carlos Saura, falecido esta sexta-feira, durante a cerimónia dos prémios Goya. Esta tinha agradecido o cuidado que foi prestado e declarado que “a saúde pública merece que a cuidem como o pessoal público cuida de nós”, instando “a quem tiver responsabilidades que o faça”. A conta oficial da Comunidade de Madrid tuítou imediatamente, gabando-se daquele hospital ser de “gestão público-privada que também funciona”. A dirigente do UP contrapõe que Ayuso está “muito nervosa” e que não pára de dizer barbaridades”, mas estas “não vão tapar a realidade e a realidade é que há quase um milhão de madrilenos sem médico de cuidados de saúde primária nem pediatra”.

Ao mesmo órgão de comunicação social, Iñigo Errejón, do Más Madrid, disse que a manifestação é a prova de que uma maioria de cidadãos “está de acordo com uma ideia muito básica que é a ideia que nos faz sociedade: queremos viver num lugar onde a tua saúde e o teu bem-estar não dependem do teu dinheiro”.

O secretário-geral do PSOE de Madrid, Juan Lobato, por sua vez, também fala numa “maioria cabal” da sociedade madrilena que quer a proteção da saúde pública.

Os dirigentes das grandes centrais sindicais proferiram declarações no mesmo sentido. Unai Sordo, das CCOO, reforça que “Madrid é seguramente o exemplo mais extremo de desinvestimento na saúde pública. Madrid é a Comunidade que menos gasta em saúde pública por habitante e, ao mesmo tempo, a Comunidade onde cada habitante de Madrid mais tem de gastar em saúde privada”. Por isso, a dirigente de Madrid da central sindical, Paloma López, exige que não se desvie o financiamento público para privados: “há uma derivação importante de capital publico para hospitais privados e isso não pode ser”.

Marina Priero, da UGT de Madrid, reivindica igualmente recursos suficientes para que seja garantido o direito à saúde.

E Madrid não foi a única cidade a sair à rua este domingo em defesa da saúde pública. Também em Santiago de Compostela, na Galiza e em Burgos, em Castela e Leão, ambas governadas pelo Partido Popular, houve manifestações que juntaram milhares de pessoas.

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