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Brasil: Assassinado mais um líder indígena que se opunha ao roubo de madeira

Zezico Rodrigues Guajajara era professor, líder comunitário e defensor da floresta. É o quinto dirigente dos Guajajara morto desde novembro e o 49º desde o início do século. Além da violência, as associações estão preocupadas com a chegada do coronavírus.
Zezico Guajajara. Foto do Cimi.
Zezico Guajajara. Foto do Cimi.

Na noite desta terça-feira, o Conselho Indigenista Missionário, Cimi, confirmou o assassinato a tiros de Zezico Rodrigues Guajarara no município de Arame, no estado brasileiro do Maranhão.

Na nota co-assinada entre o Cimi, o Centro de Trabalho Indigenista, a Greenpeace e o Instituto Socioambiental, noticia-se “com profunda tristeza e indignação” o sucedido na terra indígena de Arariboia.

Zezico Rodrigues era professor há mais de 20 anos e diretor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru, na aldeia Zutiwa. Este líder indígena, contam, “tinha forte atuação em defesa do território tradicional do povo Guajajara” e “posicionava-se contra a derrubada da floresta e vinha denunciando a crescente presença de invasores e o roubo de madeira” nas terras que pertencem aos índios. Ainda no passado dia 29, tinha sido nomeado coordenador regional da Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia.

Os dados do Cimi apontam para um número de 49 indígenas assassinados desde 2000, um no estado do Pará, os restantes no Maranhão. Nos últimos dois meses de 2019, quatro índios Guajajara foram assassinados. O mais conhecido deles era Paulo Paulino Guajajara, do grupo Guardiões da Floresta, que foi criado por estes indígenas para monitorizar os ataques às suas terras.

Segundo estas ONGs, “a situação vivenciada pelo povo Guajajara é trágica e exemplar em relação ao contexto de vulnerabilidade a que muitas comunidades indígenas estão expostas”. Têm sido vítimas de um “impressionante número de homicídios” e muitos destes continuam “sem punição ou mesmo investigações conclusivas”. A isto soma-se a um contexto de “constantes invasões às terras indígenas, especialmente por madeireiros, garimpeiros e grileiros”, o nome dado aos usurpadores de terras.

Culpam ainda “a estratégia do governo Bolsonaro” que se tem recusado a demarcar terras indígenas, abandonado várias ações judiciais que defendiam a permanência dos povos em terras sob litígio, reduzido ações de fiscalização, feito “um discurso que incentiva a invasão de terras demarcadas e consolidadas”. Para eles, exemplo disto é a declaração de Jair Bolsonaro em janeiro que referiu que “mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombos. Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e manipuladas por ONGs. Vamos juntos integrar estes cidadãos e valorizar a todos os brasileiros”. As associações ouvem aqui um “convite do presidente da República à invasão e integração forçada” que “é responsável pela violência crescente em diversas terras indígenas pelo país”. E o episódios têm vindo a suceder-se.

Preocupação com efeitos do coronavírus nas populações indígenas

A pandemia da Covid-19 levanta preocupações adicionais com a presença dos invasores. Há um contexto de risco de saúde acrescido que “acentua um cenário que já é crítico e torna ainda mais urgente que o governo federal tome providências para garantir a segurança dos povos indígenas, suas vidas e seus territórios”.

Estes grupos lembram ainda que Zezico também era um defensor dos direitos do grupo Awá-Guajá. Uma tribo que vive em situação de isolamento voluntário em Arariboia.

O France24 dá conta esta quinta-feira, aliás, do primeiro caso positivo da doença num índio brasileiro. Trata-se de uma profissional de saúde de vinte anos, da etnia kokama, de Santo António do Iça, no estado do Amazonas, perto da Colômbia.

O ministro da saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, garantiu que o governo está atento e tem em conta a vulnerabilidade destes a vírus importados, nomeadamente as populações isoladas. Não respondeu a nenhuma das preocupações centrais dos movimentos indígenas. Apenas aconselhou “os dirigentes autóctones que chegam do exterior” a isolar-se em quarentena e a não regressar imediatamente às suas aldeias.

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