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Atrás das grades

É fundamental debater que caminho seguir para construir uma escola melhor. Será que queremos uma escola "armazém/fábrica" ou uma escola de qualidade e com futuro? Até agora, não houve um Ministério da Educação capaz de investir na Escola Pública para o século XXI. Por Gonçalo Gonçalves.
“Quando chegamos perto de uma escola, em especial uma escola do ensino básico, a primeira coisa com que nos confrontamos é a presença de grades” – Foto de Paulete Matos
“Quando chegamos perto de uma escola, em especial uma escola do ensino básico, a primeira coisa com que nos confrontamos é a presença de grades” – Foto de Paulete Matos

Quando chegamos perto de uma escola, em especial uma escola do ensino básico, a primeira coisa com que nos confrontamos é a presença de grades. Pode parecer um pormenor, mas na verdade há uma barreira que marca o quotidiano dos alunos e de quem lá trabalha.

"— Aqui é a escola! Não é o teu bairro. Não é o teu quintal. Aqui, atrás das grades, são todos iguais."

O bairro até pode ir para a escola, mas a escola não vai ao bairro.

Claramente, não somos todos iguais!

Se a barreira que delimita o espaço escolar existe para criar um ambiente favorável, de partilha e de aprendizagem, protegido dos problemas da comunidade, então os muros não servem de nada. A escola, como promotora de cidadãos ativos e participativos, precisa de condições e recursos.

A escola é o meio de dar a todas e a todos experiências e oportunidades para que as crianças desenvolvam percursos de sucesso escolar. No entanto, a "Escola a tempo inteiro" é um engodo, pois além de criar falsas expectativas no acesso às mesmas oportunidades, assenta numa extrema precarização laboral. O desinvestimento na escola pública acentua as desigualdades ao invés de as atenuar.

A precariedade e os baixos salários perpetuam a pobreza de muitas famílias. Os pais, que necessitam de trabalhar horas a fio, mantêm-se afastados dos seus filhos, que ficam nos estabelecimentos escolares por mais horas do que seria desejável. É preciso dinamizar as comunidades e criar as ferramentas para que as novas gerações se libertem dessa precarização laboral e dessa pobreza crónica.

É fundamental debater que caminho seguir para construir uma escola melhor. Será que queremos uma escola "armazém/fábrica" ou uma escola de qualidade e com futuro? Até agora, não houve um Ministério da Educação (ME) capaz de investir na Escola Pública para o século XXI. A burocracia e a falta de diálogo com os professores são uma constante nos sucessivos ME. A desvalorização da classe docente e o agravamento das condições de trabalho tem contribuído para que a profissão seja cada vez menos apelativa. E com a falta de professores que se faz sentir, há turmas que ficam durante largos períodos de tempo sem aulas. Urge resolver este problema.

A "Escola a tempo inteiro" não pode transformar-se num depósito para crianças que não têm para onde ir, enquanto os pais estão a trabalhar. Atrás das grades, há depósitos precários e escolarizados, uma espécie de escola remendo para os mais pobres, onde continuam a faltar recursos e investimento. As aprendizagens são essencialmente partilhas, que precisam de ser feitas de portas abertas para as comunidades.

Temos de levar a escola para fora!

A escola pode ir aos espaços naturais (florestas, parques, reservas, praias), aos museus, aos centros culturais, às casas dos "mais velhos". Não para visitá-los, mas para transformá-los nas nossas salas de aula. Se há um clube desportivo, um museu, um parque, uma floresta, uma praia na cercania da escola, porquê continuamos dentro de quatro paredes? A escola é uma comunidade que vive de comunidades das quais não se pode afastar nem voltar as costas.

Mas também, porque fechamos as escolas às 17 horas? As comunidades também podem usufruir desse espaço. É urgente capacitar as escolas para que possam abrir-se aos cidadãos, como lugar para a reflexão, como espaço de democracia, de defesa dos direitos humanos, de promoção da igualdade, de pensamento crítico e de debate para um futuro melhor.

A Escola não é minha, não é do Diretor nem do Presidente do Município.

A Escola é nossa!

Artigo de Gonçalo Gonçalves, professor e participante nas Jornadas de Educação do Bloco de Esquerda

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