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África erradica poliomielite

Há quatro anos que não há novos casos. Apenas o Afeganistão e o Paquistão continuam a ter propagação da doença.
Criança a ser vacinada contra a poliomielite. Foto da Unicef Etiópia/Flickr.
Criança a ser vacinada contra a poliomielite. Foto da Unicef Etiópia/Flickr.

A última grande batalha contra a poliomielite no continente africano foi no nordeste da Nigéria. Depois destes casos, há quatro anos, a doença não se voltou a propagar-se em África. Assim, a Comissão de Certificação Regional de África, um organismo independente, declarou esta terça-feira o continente finalmente livre da poliomielite.

A poliomielite afeta crianças com menos de cinco anos. Os sintomas iniciais são febre, fadiga, dor de cabeça, vómitos, rigidez do pescoço e dores musculares. Infeta também o sistema nervoso e pode levar à paralisia em uma em cada 200 infeções, até à morte em 5 a 10% das situações, quando os músculos responsáveis pela respiração são afetados. Não tem cura mas a vacina, descoberta em 1952 por Jonas Salk, é eficaz. Duas das três variantes da doença foram já erradicadas ao nível mundial.

A campanha de vacinação no continente culminou num sucesso. 95% da população está agora imunizada numa região que, em 1996, tinha mais de 75.000 mil crianças paralisadas devido à poliomielite. A Organização Mundial de Saúde estima que se tenham prevenido 1,8 milhões de casos da doença.

Em 2014, ainda houve casos em Puntland, na Somália, o penúltimo país a ver a doença ser erradicada. Por último foi a Nigéria, dois anos depois, no estado de Borno. Os esforços de vacinação aí enfrentaram a violência armada do Boko Haram e dezenas de trabalhadores do setor da saúde foram mortos. Em 2013, por exemplo, nove trabalhadoras foram mortas em dois ataques do Boko Haram em centros de saúde em Kano.

Para além da violência armada, a campanha de vacinação teve de enfrentar contra-campanhas de desinformação. Dirigentes extremistas islâmicos fizeram circular o rumor de que a vacina continha um produto que causava a infertilidade, desenvolvido pelo governo norte-americano com o objetivo de tornar todas as mulheres muçulmanas infertéis.

Em declarações à BBC, Misbahu Lawan Didi, presidente da Associação Nigeriana de Sobreviventes da Polio, destaca ainda o papel dos sobreviventes nas campanhas de vacinação. Junto com professores, líderes religiosos e vários outros voluntários foram às zonas mais remotas convencer os mais renitentes: “perguntavamos-lhes: não pensam que é importante protegerem as vossas crianças para não ficarem como nós?”

A doença continua a existir no Paquistão, onde foram detetados 58 casos este ano, e no Afeganistão, onde ocorreram 29. Se as campanhas de vacinação que aí decorrem forem bem sucedidas a poliomielite pode tornar-se a segunda doença humana a ser erradicada depois da varíola em 1979.

A OMS celebrou a circunstância numa cerimónia em que Matshidiso Moeti, a diretora regional para África da organização declarou que este é “um exemplo do poder da solidariedade”, alertando contudo que "a batalha ainda não acabou".

Na mesma ocasião, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, homenageou o papel de Nelson Mandela nesta campanha numa altura em que "um futuro sem poliomielite" parecia "impossível".

 

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