O "não" venceu o referendo à reforma constitucional realizado no dia 2 de Dezembro na Venezuela com 51%, contra 49% do "sim" defendido pelo presidente Hugo Chávez. O resultado apanhou muitos desprevenidos, como os jornais Estado de S. Paulo, do Brasil, ou o Público, de Portugal, que optaram por acreditar nas pesquisas à boca da urna e antecipar uma vitória do "sim" que não ocorreu.
No discurso em que reconheceu a vitória do "não", Hugo Chávez, dirigindo-se ao "povo que acredita em mim" pediu "coragem" e afirmou que a "República Bolivariana continuará a fortalecer-se". O general Baduel, ex-ministro da defesa, que se opôs a Chávez, considerou que "ninguém ganhou, nem ninguém perdeu".
O referendo estava dividido em dois blocos de artigos a alterar. No Bloco A, no essencial proposto pelo presidente, o "não" obteve 50,7% e o "sim" 49,3%. No Bloco B, proposto pela Assembleia Nacional e apoiado também pelo presidente, o "não" obteve 51% e o "sim" 49%.
Entre as alterações à Constituição que foram rejeitadas em referendo estavam a ampliação do período do mandato presidencial de seis para sete anos, e a possibilidade de ser reeleito sem limite de número de mandatos, podendo concorrer a eleições imediatamente após o final do seu mandato.
Chávez citou Simón Bolívar, dizendo "se a maioria não aceita isso, delego-o para a posterioridade" e acrescentou, "não para uma posterioridade de 100 anos", referindo que continuará as mudanças políticas na medida em que o permita a Constituição Bolivariana.
O antigo ministro da Defesa, general Raúl Baduel, que se opôs à reforma constitucional, felicitou o povo venezuelano e considerou: "Estes resultados não podem ser reconhecidos como uma vitória. É um êxito da reflexão que todos devemos fazer".
O resultado desencadeou uma profunda discussão entre a esquerda venezuelana. O sociólogo venezuelano Ignácio Avalos apontou que a oposição cresceu muito pouco e foi o chavismo que derrotou a proposta de reforma. "Elementos como a concentração de poder não convenceram e os chavistas instintivamente viam como muito autoritário esse projecto de socialismo" disse.
Para ele, foi o "chavismo que derrotou a proposta de reforma. A oposição cresceu muito pouco e manteve-se praticamente com os mesmos números da última eleição. O que determinou um pequeno triunfo do ‘não' foi a grande abstenção dos chavistas, com 3 milhões de votos a menos que na última eleição presidencial. Poderíamos afirmar que o chavismo derrotou Chávez."
Para Vladimir Villegas, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, "tem de haver no chavismo a necessária reflexão para encontrar o caminho da crítica. Prejudica-nos mais o silêncio hipócrita do que a crítica", disse, em entrevista ao jornal El Nacional.
"O PSUV é outro dos temas que deve ser discutido. Um partido não pode nascer tendo como sua primeira estrutura um tribunal disciplinar. Isso é como fundar um hospital e a primeira coisa que se constrói é a morgue", disse, acrescentando que "Esta é uma derrota salvadora para a revolução, porque funciona como um alerta para as vulnerabilidades que temos. Quem tenha passado por isto (pela derrota) sabe o que isso significa. Também se aprende com ela. A prepotência não pode ser uma ferramenta chavista."
Leia também o dossier sobre o referendo na Venezuela
Venezuela: Chávez derrotado pela primeira vez nas urnas
21 de dezembro 2007 - 0:00
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