Líbano: crise sem fim à vista

21 de dezembro 2007 - 0:00
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Beirute amanheceu no dia 23 de Janeiro completamente paralisada por barricadas de pneus em chamas e confrontos entre apoiantes e opositores do primeiro-ministro Fouad Siniora, do Líbano. Uma greve geral foi convocada pelos líderes da oposição, entre eles Hassan Nasrallah, do Hezbollah, com o apoio dos sindicatos, para pedir um novo governo de unidade nacional que tivesse um terço mais um do número de pastas para a oposição, o que lhe daria o poder de veto sobre as decisões governamentais.



O primeiro-ministro, Fouad Siniora, que se opunha a estas reivindicações, denunciou que "a oposição está a tentar um golpe de força". O ministro Ahmed Fatfat afirmou: "Isto não é uma greve. É uma acção militar, uma verdadeira agressão".



A crise em tono da composição do governo começara quando, em 11 de Novembro de 2006, seis ministros xiitas renunciaram aos seus cargos. A partir de 1 de Dezembro daquele ano, o Hezbollah e os seus aliados cristãos da Corrente Patriótica Livre, do general Michel Aoun, mantinham um acampamento em frente ao gabinete do primeiro-ministro, no centro de Beirute, em protesto contra o governo.



Em Abril, o líder do Hezbollah admitiu num discurso que as negociações tinham chegado a um beco sem saída, mas que ele se recusava a dar o passo seguinte, que seria o da guerra civil.



Entretanto explodiram a 21 de Maio combates entre o Exército libanês e militantes da organização Fatah al Islam no campo de refugiados palestinianos de , perto de Tripoli, no norte do país. Os combates configuraram o mais sangrento episódio interno ocorrido no Líbano desde a guerra civil (1975-1990). Os militares usaram tanques e bombardearam o campo sem piedade. Além de causar a morte de civis, provocaram um isolamento que levou à falta de alimentos e medicamentos no campo, onde vivem pouco mais de 30 mil palestinianos.



As hostilidades tiveram início quando forças de segurança libanesas tentaram prender suspeitos do roubo a um banco no centro de Trípoli. Os suspeitos, membros do Fatah al Islam, resistiram à prisão e outros militantes atacaram postos militares, matando vários soldados libaneses.



O Exército respondeu bombardeando Nahr al Bared e cercando o edifício no centro de Trípoli. A cidade tornou-se um campo de batalha, com civis no fogo cruzado, enquanto os militares tentavam tomar o prédio.



Os combates em torno do campo de Nahr al Bared duraram 105 dias. Ocorreram confrontos também, em menor escala, no campo de refugiados de Ain al-Hilweh, no Sul do Líbano. O cerco a Nahr al Bared provocou a morte a pelo menos 446 pessoas, incluindo 168 soldados e 226 militantes. Entre 400 e 500 soldados ficaram feridos e mais de 215 militantes foram presos.



Um novo episódio da crise política ocorreu à meia noite do dia 23 de Novembro, quando o presidente Emile Lahoud terminou o seu mandato constitucional e abandonou o palácio presidencial, deixando vago o cargo, afirmando antes de o fazer que passava o controle da segurança para o Exército. Com a presidência vaga, o Líbano entrou numa espécie de limbo político. Constitucionalmente, as funções da presidência passam para o Conselho de Ministros, enquanto não se resolver a crise.



Pela divisão de poderes no Líbano, o presidente tem de ser necessariamente um cristão maronita, assim como o primeiro-ministro é um muçulmano sunita e o presidente do Parlamento é um muçulmano xiita. Mas sucessivas reuniões do Parlamento não conseguiram reunir o consenso de dois terços necessário para eleger o presidente.



O primeiro-ministro, Fuad Siniora, apelou à calma e disse não haver motivos de preocupação. "Nenhum libanês, comigo em primeiro lugar, aceitará que não haja um presidente para a República."



Em meados de Dezembro, já se formara um acordo sobre o nome do próximo presidente da República: o general Michel Suleiman, o cristão que dirige actualmente o exército. Também existia acordo sobre a necessidade de fazer emendas à Constituição - de modo a permitir essa eleição e dar a possibilidade a que uma nova se faça após a realização de legislativas no prazo de dois anos. Chegara-se ainda a acordo sobre a necessidade de um novo governo, mas persistia o desacordo sobre o nome do futuro primeiro-ministro e sobre a composição interna do gabinete. Também não havia consenso sobre a distribuição de pastas. A oposição aceitava ficar em minoria, mas exigia paridade nas pastas cruciais.

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