No dia 12 de Novembro, os transportes paralisaram em França, numa greve convocada pelos sindicatos do sector contra a intenção do governo Sarkozy de aumentar o período de descontos necessário para a reforma dos trabalhadores abrangidos por regimes especiais, cerca 1,6 milhão de pessoas. A 18 de Outubro já ocorrera uma primeira greve de 24 horas. A greve, que duraria 10 dias, foi o primeiro confronto social com que se defrontou Sarkozy desde que foi eleito Presidente da República.
A greve envolveu os trabalhadores dos caminhos-de-ferro, do metro e dos autocarros da região parisiense, e incluiu os trabalhadores dos serviços de energia e até os da Opera de Paris e da Comédie-Française.
Os sindicatos opuseram-se ao aumento do tempo de descontos necessários para a reforma, de 37,5 para 40 anos, que o governo pretende levar a cabo, reduzindo os direitos destes trabalhadores à situação geral da segurança social, que exige 40 anos de descontos para a reforma. Os sindicatos alertaram que o governo pretende, se passar este corte de direitos, aumentar a idade de reforma de todos os trabalhadores.
Os estudantes universitários decidiram em coordenação nacional apoiar a greve e bloquear as gares. No meio estudantil já estava em curso uma mobilização contra a lei da autonomia universitária aprovada pelo governo Sarkozy em Agosto, que os estudantes acusam de promover a crescente privatização das universidades, o aumento das propinas e o risco de as empresas começarem a mandar nas faculdades.
A greve dos ferroviários foi convocada por sete sindicatos do sector (CGT, SUD-Rail, UNSA, FO, CFTC, CFE-CGC, CFDT), que representam 97 % dos ferroviários.
Na empresa ferroviária (SCNF), o regime especial foi criado ao mesmo tempo que a própria empresa, em 1937. Para obter a reforma máxima, o ferroviário hoje tem de contribuir durante 37,5 anos. O governo quer aumentar este período para os 40 anos, num período de transição até 2012, com aumentos faseados.
Além disso, hoje os ferroviários podem hoje reformar-se aos 50 anos, no caso dos condutores, e aos 55 os restantes ferroviários. O governo quer que seja prolongada a idade da reforma. Assim, os trabalhadores ainda poderiam reformar-se aos 50 e 55 anos, mas teriam, para isso, que descontar mais. Além disso, as pensões passariam a ser indexadas à evolução dos preços e não à dos salários.
No dia 15, a greve já provocava cerca de 400 km de congestionamento em Paris.
No dia 20, enquanto a greve prosseguia, 700 mil pessoas manifestavam-se em toda a França, de acordo com a central sindical CGT, ou 375 mil, segundo a polícia, contra a política do governo Sarkozy de aumentar a idade da reforma, de suprimir postos de trabalho e de aplicar uma política de contenção salarial. Nas ruas estiveram sobretudo os funcionários públicos, mas houve também contingentes de ferroviários e de estudantes. Em Paris, cerca de 500 polícias participaram da manifestação, reivindicando aumentos salariais.
Em Paris, o secretário-geral da CFDT, central que desconvocou a greve dos ferroviários, François Chérèque, foi vaiado quando se apresentou na cabeça da manifestação e achou melhor ir-se embora, quando ouviu gritos de "Chérèque com os patrões!" e Sarkozy-Chérèque, mesmo combate!"
"Sarko, 200% de aumento - pensão mínima de velhice, 1,1%" lia-se numa faixa da manifestação de Marseille, numa referência à decisão de Sarkozy de aumentar o próprio salário.
Nesse dia, três fábricas da Yoplait França aproveitaram o impulso e entraram em greve, seguindo o apelo da CGT, pedindo a reabertura de negociações salariais.
No dia 22, depois da reabertura das negociações tripartidas, entre governo, empresas e sindicatos, as assembleias decidiram pelo fim da greve.
Infelizmente, no fim do ano, as negociações pouco tinham avançado, tendo os trabalhadores obtido apenas pequenas compensações que pouco ou nada correspondiam à força que a greve demonstrou. A retomada a mobilização, proposta por muitos, encontrava porém um obstáculo de peso: a divisão sindical.
França: greve nos transportes enfrenta Sarkozy
19 de dezembro 2007 - 0:00
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