Um exemplo de arte e resistência: mulheres fotógrafas na Palestina

Sofia Roque estará no Fórum Socialismo 2018, que se realiza no primeiro fim de semana de setembro na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria. A fotografia e a Palestina serão o pretexto para dar a conhecer cinco mulheres artistas, cuja obra é exemplo de uma conciliação emancipatória: a que reúne o poder da imagem e a experiência de um corpo que resiste num território ocupado.

28 de julho 2018 - 11:04
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Fotografia: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.

Este é o caminho que proponho para a sessão sobre "Arte, Comunicação e Resistência: o Lugar da Imagem", chamando ainda à conversa Susan Sontag e Jacques Rancière. 

Na sua obra Sobre a Fotografia (1977), as palavras de Susan Sontag sugerem um ponto de partida para o debate: “Ao ensinar-nos um novo código visual, as fotografias modificam e ampliam as nossas noções sobre o que vale a pena ser visto e sobre o que nós temos o direito de observar. São uma gramática e, sobretudo, uma ética do ver. Definitivamente, o mais grandioso empreendimento da fotografia é permitir-nos a sensação de que podemos ter o mundo inteiro na nossa cabeça – como uma antologia de imagens.”

Neste sentido, o propósito da escolha deste tema confunde-se propositadamente com o fim mais elementar das formas artísticas que privilegiam o dispositivo da imagem, seja a fotografia, o vídeo, o cinema, as pinturas, a ilustração... Trata-se de dar a ver, mostrar, desvelar, escancarar ou ampliar o mundo, na sua possibilidade material e ficcional.

No caso particular das fotógrafas e das fotografias escolhidas, o que pretendo é partilhar um gesto artístico que se realiza de muitas formas e a quatro tempos: o da visibilidade, o da denúncia, o da resistência e o da vida.

E essa vida tem corpo, esperanças, formas, lágrimas, sangue, desejos, medos e contradições. Em alguns dos trabalhos fotográficos, é a própria arte a forma de resistência. Noutros, a arte, neste caso, a fotografia, é o meio que indica esses muitos caminhos de (auto)reconhecimento e insubmissão perante o real. Portanto, a fotografia e a Palestina serão o pretexto para dar a conhecer cinco mulheres artistas, cuja obra é exemplo de uma conciliação emancipatória: a que reúne o poder da imagem e a experiência de um corpo que resiste num território ocupado.

Nem todas as mulheres fotógrafas sobre as quais falarei são palestinianas. Sem ter a pretensão de esgotar exemplos ou evocar arquétipos, as identidades e o território deverão surgir como diversos, com muitos lados, num vislumbre de uma geometria finita, mas imensa.

Se tudo isto resultar em descoberta e/ou reencontro, é isso mesmo. O gesto de dar a ver é sempre inusitado e permanece aberto.

Texto de Sofia Roque, uma adaptação da apresentação do Ciclo “Mulheres Fotógrafas na Palestina”, publicado no Esquerda.net, entre Dezembro de 2017 e Janeiro de 2018

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