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Somos a voz adormecida que precisa de ser acordada

A Universidade prepara-nos para o quê? Ou melhor, deve preparar-nos para um mercado de trabalho selvagem ou para sermos cidadãos prontos a interpretar o mundo? Não queremos ser mais os homens e as mulheres passivas e conformadas com a esta sociedade patriarcal e capitalista.
Em 1968, tivemos na Europa enormes movimentos estudantis que abalaram o sistema. Em Portugal, estas revoltas dos estudantes nas universidades abanaram a Ditadura Salazarista. A guerra assombrava todos os jovens, que mesmo assim, não abdicaram do seu espírito crítico. Lutavam por um futuro de liberdade. A nossa bitola de ação não pode ser determinada pelas ações. A transformação social olha sempre para a frente, imagina um futuro melhor Mas não devemos, nós, que vivemos no pós Revolução de Abril, questionar-nos sobre a apatia generalizada que se vive no meio estudantil? Para começar, podemos começar por tentar responder a estas duas questões: A culpa é nossa? O modelo de ensino que temos tem algo que ver com isso?
É um sentimento generalizado que há um certo desfasamento entre aquilo que nos é proposto a aprender e os seus moldes com o que procuramos para o nosso futuro. Há, com certeza, muito que ainda precisa de ser mudado. Do lado de cá, que é como diz, aquilo que só depende de nós, falta voltarmos a imaginar um mundo coletivamente. Temos que fazer renascer o movimento estudantil nas nossas universidades. Lutar contra as propinas, combater a inflação imobiliária e usar a nossa voz para defender quem, infelizmente, já não se senta ao nosso lado no auditório porque foi forçado a desistir. Só uma atitude solidária e de horizontalidade para com os nossos colegas nos dará mais força enquanto comunidade para agir.
Pensar coletivamente um mundo melhor obriga, desde logo, a uma postura diferente entre pares. Nas nossas faculdades assistimos às piores práticas entre colegas. A praxe, autoritária como é, serve como um bom exemplo disso. Imaginem, agora, que o vigor desses gritos pressupunham uma reivindicação por justiça social, pela igualdade e pelos direitos comuns. Hoje a luta seria mais forte e a nossa voz não só iria ser ouvida como impossível de ser ignorada. Em cada esquina, um amigo. Em cada esquina, um pedido de apoio, mesmo que silencioso. Ainda vamos a tempo de mudar o ensino. Ainda vamos a tempo de pensar naqueles que não têm a possibilidade de pagar propinas e/ou a renda de uma casa.
Temos que fazer do ensino nas universidades um ensino crítico. É urgente não desperdiçar a oportunidade: Continuar a ser iguais a todos os outros ou ser diferentes e marcar a história. E ela escreve-se em cada pormenor da nossa vida enquanto estudante, desenha-se nos locais onde vivemos.
Como estudante na Universidade do Minho, preocupa-me que, em Braga, estudantes que não têm a possibilidade de viver perto da universidade têm que apanhar dois transportes para chegar ao Campus e não existe um passe especial para isso. Onde é que está a justiça no ensino que se diz para todos mas acaba por ser só para alguns? O passe social foi um grande passo na AML e AMP, mas há outras regiões que são esquecidas. O passe de comboio de Guimarães-Santo Tirso é de 35€ mensais. O passe social para estudantes é de 30€ e abrange todos os transportes. O direito à mobilidade é essencial para combater as assimetrias territoriais e sociais.
Todos temos direito a estudar no Ensino Superior, que pode e deve ser de qualidade e para todos e todas, sem exceções. Sem discriminações de natureza étnica, sexual ou de género. Mas para isso precisamos de acordar a voz adormecida e mostrar que somos realmente a “geração mais preparada de sempre”. Se somos os mais preparados, então saibamos utilizar essa ferramenta para transbordar o papel do estudante enquanto agente passivo de um futuro mercado de trabalho explorador e excludente. Nas universidades vamos à luta sem medo e, apesar do clima de medo, nunca estamos sozinhos. O ensino superior vai muito além de um diploma. É a oportunidade de usar a nossa voz.
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