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Somos todos bem-vindos (?)

Se existe um objetivo partilhado por vários agentes políticos e sociais no alargamento da base social do Ensino Superior, então comecemos por quebrar as barreiras existentes no acesso.
Há barreiras enormes no acesso ao ensino superior para os alunos do ensino regular, quer pelo método de seleção, alojamento, propinas, despesas. Nos cursos profissionais, a situação não é diferente. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, apenas 18% dos estudantes do ensino profissional prosseguem estudos para o Ensino Superior.
Atualmente, a fórmula de cálculo atual para os alunos que queiram ingressar no ensino superior é a seguinte: (7CFC + 3M)/10, onde CFC é a Classificação Final de Curso que engloba a média de todos os módulos, do estágio e da Prova de Aptidão Profissional e onde “M” é referente à média de dois exames obrigatórios propostos pela universidade (Português e outra disciplina). Sendo assim, estamos de pé atados.
É raro encontrar alunos com uma CFC alta, e o motivo é simples de compreender. A CFC é calculada da seguinte forma: (2 x Média de Todos os Módulos x (0,3 x Nota Final de Estágio + 0,7 x Prova de Aptidão Profissional))/3. É de extrema dificuldade conseguir ter uma boa média de todos os módulos, isso acontece porque a carga horária do ensino profissional é enorme, havendo várias turmas sem uma única tarde ou manhã livre, o que impede o estudo por parte destes alunos.
O facto da nota de estágio ser levada em conta no ingresso de um estudante para no Ensino Superior pode dificultar, e muito, a probabilidade de entrar.. Basta, para isso, que o patronato do local onde desenvolveu o estágio não valorizar o estagiário (pelos mais variados motivos), tendo a possibilidade de indicar uma nota na sua avaliação. Além do mais, dificilmente pode ser contestada e/ou alterada.
A Prova de Aptidão Profissional, apesar de fazer sentido estar incluída na nota final de curso, não devia ter o peso que tem na fórmula de cálculo.. Dois dos júris são, por norma, empresários que aceitam avaliar alunos “em troca” trabalho não pago na sua empresa, o que distorce toda a transparência do processo.
Apesar de toda a histeria levada a cabo pelo governo e pela comunicação social em relação ao fim dos exames para os alunos do ensino profissional, esta medida é de extrema insuficiência. São poucas as Instituições de Ensino Superior que aderiram a este modelo “especial” de entrada para estudantes do profissional à base de entrevistas, logo, faz sentido defender uma mudança estrutural do método de ingresso geral para estes alunos, que termine de vez com o peso excessivo que os exames nacionais acarretam.
Não faz sentido exigirmos a uma parcela significativa da comunidade escolar que se tenha de candidatar a exames sem bases para os mesmos, sem tardes livres para estudar e sem interrupção para o estudo (devido ao estágio) e por vezes sem terem as disciplinas que são obrigados a se candidatar para o ingresso. O que faz sentido é repensar, no seu todo, este modelo de acesso ao Ensino Superior.
Queremos um ensino superior que não seja elitista, plural, que não feche a porta aos alunos e que acima de tudo não deixe ninguém para trás. Para isso precisamos de mudar o método de entrada no mesmo, e quebrar o muro que existe entre o ensino profissional e o ensino superior.
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