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O Ensino da Economia na Universidade portuguesa
Vivemos tempos de dogmatismo na Economia? A insistência na receita neoliberal tem-nos levado ao abismo e fecha o debate democrático para encontrar alternativas. O ensino da Economia nas Universidades podia ser um bom instrumento para reabrir o debate. Infelizmente, tem feito o contrário.
O ensino da economia nas universidades portuguesas é acanhado, acrítico e desligado dos verdadeiros desafios que a disciplina se propõe a enfrentar. É dogmático e não deixa espaço a diferentes perspetivas nos assuntos que são abordados. Suprime discussões críticas que são essenciais para que os alunos desenvolvam a capacidade de abordar problemas económicos reais e foca-se demasiado numa falsa superioridade analítica que usa para se sobrepor às restantes ciências sociais. E porque é que isto é um problema? Se o público não é capaz de se familiarizar com os termos e método que a disciplina usa e se esta mantém uma influência preponderante nas políticas públicas, as próprias fundações da democracia e do estado de direito são corroídas.
A História
Esta não é, no entanto, uma tendência exclusivamente portuguesa, pelo contrário. A neoliberalização do ensino da economia a nível global é um processo que teve início nos anos 70-80 do século passado como medida de soft-power do governo americano durante a guerra fria. A criação de think-tanks ao redor das universidades, aliadas a uma cada vez menor independência financeira das mesmas levou a uma homogeneização dos currículos e hegemonia dos mesmos em modelos neoclássicos e premiadores de mercados desregulados, com premissas irrealistas e pouco ajustadas. Este processo montou toda uma cadeia de incentivos para a sua solidificação: Enquanto o poder económico rodeava as universidades através do financiamento dos think-tanks, as instituições de ensino alteravam os seus currículos de forma a que os seus alunos fossem absorvidos pelas empresas que apoiavam, direta ou indiretamente, esta mudança de currículos. Por outro lado, tanto alunos como investigadores tinham também incentivos positivos neste processo: Os investigadores apenas conseguiam ver a sua atividade devidamente remunerada ao exercê-la sob as condições ideológicas impostas pelos poderes económicos, enquanto que os alunos, endividados após saírem da universidade – fruto da subida global dos valores de propinas – conseguiam encontrar empregos mais bem pagos se estudassem nas universidades com estes novos currículos.
A Ideologia
Após a queda do muro de Berlim, o agravamento da retórica anti socialista e anti comunista abriram caminho à concretização de uma supremacia ideológica liberal e neoclássica nas faculdades de economia pelo mundo fora. A sua falsa supremacia analítica contribuiu largamente para a falta de questionamento dos seus processos, permitindo-lhe distanciar-se das restantes ciências sociais como método de complementar os seus modelos. Assim, a tomada ideológica dos currículos passou a ser, incrivelmente, “não ideológica”. Porquê? Se seguirmos a concessão que Louis Althusser mantinha do sistema de ensino como um “Aparelho Ideológico do Estado” podemos tomar a alegoria de que, num concerto, o instrumento musical que toca mais alto rapidamente se torna aquele que menos se ouve. Desta forma, as faculdades de economia tornaram-se em aparelhos tecnocráticos para a reprodução abstrata das relações de produção num sistema capitalista.
Uma solução?
Cabe à esquerda e a todos aqueles – alunos, professores, investigadores – que se regem por um critério de honestidade intelectual promover uma nova cultura económica regida pelo pluralismo e heterogeneidade dos currículos. Será necessária que as instituições de ensino superior sejam capazes de atingir uma maior independência dos poderes económicos vigentes e, assim, reclamar de novo para o campo democrático a pluralidade da literacia económica.
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