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Rui Moreira: Burguês, conservador e elitista

Rui Moreira é um lídimo representante da burguesia comercial e liberal da Foz, imagem que cultiva como se fosse um gentleman de boa cepa, mas que facilmente esbarra com a realidade. Artigo de João Teixeira Lopes.
Rui Moreira.
Rui Moreira. Foto José Coelho/Lusa

Rui Moreira surge no panorama político cavalgando a velha mitologia do Norte insurgente, contra as forças centralistas, bem como a exacerbada competição simbólica entre o Porto e Lisboa. Não que o centralismo seja uma fantasia; ele existe e faz-se notar na desigual repartição de recursos e na concentração burocrática das decisões. Contudo, sempre foi explorado para criar um patriotismo regional e de cidade que neutraliza as diferenças de classe e neutraliza os interesses em disputa. Como se o Norte ou o Porto fossem meras entidades territoriais homogéneas e abstratas e não espaços sociais onde se confrontam condições sociais e visões do mundo. Ajudou-o a circunstância de um dos principais candidatos ser Luís Filipe Menezes, facilmente percecionado como trânsfuga oportunista, bem como o apoio muito evidente de Rui Rio, com a sua aura de outsider dentro do PSD (entretanto, Rui Moreira quererá afirmar-se como um anti Rui Rio, mas na origem deve-lhe esse suporte). Não esqueçamos, ainda, que o PS apresentou um candidato fraco e sem propostas claramente alternativas.

Rui Moreira é um lídimo representante da burguesia comercial e liberal da Foz, imagem que cultiva como se fosse um gentleman de boa cepa, mas que facilmente esbarra com a realidade. Tantas vezes se irritou com a crítica e com a investigação jornalística que, num ápice, ressuscitou os tiques autoritários de Rui Rio. É verdade que recriou uma dinâmica no campo cultural da cidade, mas a custo da subserviência silenciosa e da punição de quem ousa contestar.

Nas prioridades políticas ressalta a ideia de cidade como fachada, preocupada em ostentar atividade, animação e “regeneração”, mas à custa da especulação imobiliária (tão ao gosto dos seus negócios e da sua família), da intensificação da gentrificação e da expulsão das classes populares da zona central, com carta branca para o alojamento local, na posse concentrada de uma mão cheia de grandes proprietários. A cidade dual, com largas franjas esquecidas, deprimidas e relegadas, por detrás do fascínio da main street turística, eis o resultado da orientação seguida.

O monárquico Rui Moreira é também um conservador que rejeita abordagens integradas e multidisciplinares no combate à toxicodependência, mantendo a hipocrisia do “deixar andar” ou a retórica populista do vigiar e punir.

Por detrás das grandes obras e eventos, sob o manto encantatório do boom turístico, emerge o político (i)liberal, burguês e defensor de uma cidade-negócio, tão ao gosto dos processos de uma modernização conservadora e elitista.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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Neste dossier:

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Ameaçado pela justiça com a perda de mandato por causa do “caso Selminho”, Rui Moreira promete recandidatar-se após dois mandatos também marcados pela atitude prepotente face à oposição e o desprezo pela participação cidadã. Dossier organizado por Luís Branco.

Terrenos junto à Ponte da Arrábida no Porto

O que está em causa no caso Selminho?

Aconteceu no Porto. Mas podia ocorrer em qualquer outro ponto do país. Os dois ingredientes do caso Selminho estão presentes em todo o território nacional. Artigo de José Castro.

Arruada de campanha em 2017. Em primeiro plano, da esquerda para a direita: Filipe Araújo (Vereador do Ambiente e Vice Presidente da Câmara), Miguel Pereira Leite (Presidente da Assembleia), Rui Moreira, Cândido Correia (candidato à Junta de Campanhã) e Fernando Paulo (vereador Habitação, Coesão Social e Educação). Atrás de Rui Moreira está Nuno Santos, então diretor de campanha e mais tarde chefe de gabinete, do qual saiu em julho de 2020.

Rui Moreira: rei no xadrez

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Rui Moreira.

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Escritórios da Telles de Abreu no Porto.

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Porto.

Boa governação, precisa-se

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Rui Moreira

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Casa da Música

Menos montra e mais conteúdo

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Fernando Paulo

Amigos de Valentim à conquista do Porto

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