Logo no primeiro mandato de Rui Moreira houve quem notasse a “gondomarização” da Câmara do Porto. Nessa eleição, em 2013, Fernando Paulo devia ter encabeçado a lista “Gondomar no Coração”, de Valentim Loureiro, então impedido de se recandidatar por ter atingido o limite dos mandatos. Mas a lista não conseguiu ir às urnas, devido a irregularidades detetadas pelo Tribunal Constitucional.
Num artigo da revista Visão publicado no fim de 2018, o repórter Miguel Carvalho conta o que se passou a seguir. Fernando Paulo aproveitou para reclamar a subvenção vitalícia a que tinha direito desde 2005, aos 37 anos, ao abrigo do estatuto então em vigor para os eleitos locais, que lhes permitia contar os anos no cargo a dobrar para efeito de aposentação. Aos 20 anos na vereação gondomarense, o delfim de Valentim Loureiro somava então mais quatro anos como autarca na freguesia de Fânzeres.
Segundo a nota biográfica apresentada no site do movimento criado por Rui Moreira, em 2014 Fernando Paulo “é convidado por Rui Moreira para diretor da Presidência”. E de facto tudo indica que assim terá sido, embora a concretização desse “convite” tenha assumido contornos de escândalo. O cargo de diretor da Direção Municipal da Presidência funciona na dependência do Presidente da Câmara, mas é preenchido através de um concurso público. A mudança nas regras do concurso para valorizar os anos de experiência em cargos dirigentes ou executivos da Administração Pública e para exigir uma licenciatura “em Filosofia e áreas afins” encaixou como uma luva no perfil de Fernando Paulo. As denúncias do Bloco de Esquerda na sequência da publicação dos contornos do concurso pela Visão não tiveram seguimento por parte do Tribunal de Contas e ainda aguardam pronúncia por parte da Inspeção-Geral de Finanças.
Na Câmara do Porto, Fernando Paulo foi encontrar um amigo e velho conhecido das lides autárquicas de Gondomar. Nuno Nogueira Santos tinha sido o responsável pela comunicação da campanha eleitoral de Moreira em 2013 e seu adjunto ao longo do primeiro mandato, tornando-se o diretor de campanha na sua reeleição em 2017. Uma experiência semelhante à que tinha tido com Valentim Loureiro: depois de três anos à frente do gabinete de imprensa da Câmara de Gondomar, este antigo jornalista dirigiu a comunicação da campanha de Valentim Loureiro em 2005, tornando-se depois seu adjunto. Desses anos reuniu algumas recordações no livro intitulado “A Varinha Mágica de Valentim Loureiro: Méritos, truques e habilidades populistas”. Uma prática a que regressou no novo cargo, desta vez em co-autoria com Rui Moreira no livro “TAP - Caixa Negra” para denunciar “um caso paradigmático de centralismo” e enaltecer a ação do autarca contra a “estratégia de abandono do aeroporto do Porto. Em julho saiu do cargo de chefe de gabinete de Rui Moreira, prometendo um “adeus definitivo à política”. Ainda segundo a Visão, a mulher de Nuno Nogueira Santos tornou-se adjunta de Fernando Paulo assim que o antigo delfim de Valentim chegou à vereação, acumulando com a presidência da empresa municipal Domus Social.
Antes disso, de acordo com a mesma reportagem, outra figura da máquina autárquica da gestão Valentim Loureiro tinha dado entrada na Câmara do Porto meses depois de Fernando Paulo vencer o polémico “concurso”. Trata-se de Otília Oliveira, cujos anos de serviço da autarquia de Gondomar, entre 1994 e 2013, coincidem com os de Fernando Paulo na vereação e sempre na dependência dos seus pelouros enquanto adjunta do vereador e chefe de divisão de Educação, Ação Social e Saúde. No Porto, tornou-se chefe da divisão de Ação Social e depois diretora municipal de Educação, cargo que mantém atualmente.
Com o regresso de Fernando Paulo às lides da vereação, agora no Porto, abriu-se uma vaga no cargo de diretor da Direção Municipal da Presidência, que ocupava. Talvez devido à escassez de licenciados em Filosofia com experiência de gestão pública, as regras do concurso voltaram a mudar, agora sem especificar a área da licenciatura exigida. Mas o vencedor foi outra figura da órbita de Valentim e de Fernando Paulo, desta vez o quarto nome da lista “Gondomar no Coração”, chumbada pelo Tribunal Constitucional em 2013. Adolfo Sousa estava nos quadros da Câmara do Porto desde 2016 e já assumira o lugar em regime de substituição após a saída de Fernando Paulo.