Revolucionário Democrático: novo sindicato dos trabalhadores em Israel

A política de trabalho em Israel foi dominada durante décadas por um sindicato único, ligado ao governo com uma tradição fortemente nacionalista. O primeiro sindicato independente e democrático foi fundado há apenas seis anos em Israel. Koach LaOvdim - Poder aos Trabalhadores – tem conseguido desde então mobilizar dezenas de milhares de trabalhadores e conta com mais de 12.000 membros em 2013. Por Centro de Informação Alternativa (AIC)

10 de junho 2013 - 7:50
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Mulheres trabalhadoras em Israel. Foto: Koach Laovdim Facebook

Na altura do Dia Internacional do Trabalhador, a AIC perguntou a Yaniv Bar Ilan, o porta voz oficial do Koach LaOvdim, qual é a situação dos trabalhadores e dos sindicatos em Israel.

É dia do Trabalhador – e ainda é dia de trabalho em Israel. O que significa Primeiro de Maio em Israel e qual a situação dos trabalhadores no país?

O Primeiro de Maio em Israel tem algumas características únicas: Aqui não tem necessariamente conotações muito positivas para os trabalhadores. O Primeiro de Maio está, em parte, associado a uma agenda política. A razão principal é histórica: Nos seus primeiros trinta anos, o Estado de Israel foi governado pelo Partido Trabalhista. O partido assumiu o apoio dos trabalhadores como garantido. O Primeiro de Maio representava a monopolização do poder pelo partido.

Quando os Trabalhistas perderam o poder pela primeira vez em 1977, o país sofreu uma reviravolta. Desde então a agenda política tem vindo a seguir uma visão de capitalismo idealizado, com os olhos postos na América. Uma campanha maciça de privatizações mudou o país, e o orgulho tradicional nas fundações democráticas da sociedade desapareceram. O Dia do Trabalhador adquiriu uma outra conotação negativa.

Por tradição, Israel só tinha um sindicato, O Histadrut, muito ligado ao governo e ao Partido Trabalhista. Os membros eram basicamente forçados a aderir, como condição para terem acesso aos serviços sociais. Quando os serviços sociais foram drasticamente reduzidos com as privatizações, o número de membros diminuiu. Hoje em dia, apenas 25 por cento dos trabalhadores em Israel estão organizados, em comparação com os 75 por cento existentes em meados de 1990.

Koach Laovdim rompe com a tradição de um estado-sindicato, o Histadrut. Como foi formado o Koach Laovdim e o que carateriza o sindicato?

Tecnicamente falando, o Histadrut não era o único sindicato em Israel. Há 75 anos tinha sido criado um segundo sindicato, associado ao partido da direita, o Likud. Este foi talvez o único sindicato do mundo com uma agenda nacionalista, desenvolvido em resposta à Histadrut. Na realidade não era muito eficaz pois discordava das greves e por conseguinte impedia a verdadeira pressão dos trabalhadores.

O Koach Lavodim foi fundado há apenas seis anos. É a primeira e única organização que verdadeiramente compete com a Histadrut, pois oferece aos trabalhadores uma alternativa verdadeira. Foi fundada por dirigentes sociais, alguns académicos, outros do próprio terreno. Alguns deles tinham adquirido a sua própria experiência trabalhando em empregos mais precários onde – típico em Israel – não tinham qualquer oportunidade de se organizar para conquistar os seus direitos e uma remuneração justa. Queriam criar uma alternativa significativa ao complacente Histadrut.

O que é alternativo em relação ao Koach LaOvdim? Mais importante do que tudo, é o primeiro sindicato democrático em Israel. Salienta que os trabalhadores devem dar os seus pareceres nas maiores decisões relativas às suas condições de trabalho, incluindo decisões de greve, sobre acordos colectivos e assim por diante. No Histadrut, mesmo a participação básica dos trabalhadores era proibida. É certo que não inventamos o modelo democrático, mas orientamo-nos pelos modelos do Norte da Europa, onde os sindicatos participativos são norma fundamental.

A configuração democrática parece bastante básica, mas para Israel é uma novidade. O que é surpreendente é que o Histadrut teve de reconhecer a diferença. Também eles começaram a ver as coisas de uma outra maneira.

O novo governo acaba de apresentar a sua proposta para um orçamento de reforma social. De que forma vão ser afetados os trabalhadores?

Infelizmente, o novo orçamento não é de modo algum social. Usam a palavra social como um slogan, e reconhecem verbalmente os protestos sociais (do verão de 2011), mas na realidade não pretendem mudar nada para mais social. Muito pelo contrário: Foi noticiado recentemente que o primeiro ministro está a tentar emitir nova legislação para reduzir a possibilidade de greves e limitar os tribunais de trabalho. Desta maneira, está a tentar restringir o trabalho dos sindicatos.

Há um fosso enorme entre os slogans do novo governo e a realidade da política. A esquerda tem de estar atenta a isto: Os Partidos e os sindicatos devem estar preparados para defender os seus direitos.

Os trabalhadores israelitas vêm de grupos sociais muitos diferentes, muito polarizados. Como vai o Koach LaOvdim lidar com diferenças tão vastas?

É sempre surpreendente ver que os objetivos comuns ajudam as pessoas a trabalharem lado a lado. Por exemplo, recentemente trabalhamos com professores dos jardins de infância, que em Israel vêm de grupos sociais muito diferentes: religiosos Judeus, Árabes, novos imigrantes, Beduínos. Quando chegou a altura de nos organizarmos para melhorar as condições de trabalho, as pessoas uniram-se, juntaram forças, e as diferentes origens deixaram de ter grande importância. Ultrapassar a diferença normalmente começa no terreno: Trabalha-se com os grupos envolvidos e em seguida unem-se as pessoas.

Devo dizer que a Koah LaOvdim dá, na verdade, atenção especial a estas questões e trabalha nelas ativamente. Temos sempre o cuidado de respeitar as necessidades específicas de cada grupo. E certifcamo-nos de que todos os grupos estejam representados na liderança. Isto é acção em termos muito práticos: Por exemplo, traduzir para o Árabe todos os documentos relevantes.

Hoje em dia, quais são as relações da Koach LaOvdim com o Histadrut?

Oficialmente o Histadrut nunca reconheceu a nossa existência. Em entrevistas, os dirigentes nunca mencionam o nosso nome. Não oficialmente, é claro que eles sentem a nossa presença, como concorrentes. Em vários casos fizeram tudo o que puderam para retirar os trabalhadores para longe das nossas acções, até mesmo colaborando com a gestão. Por nosso lado, tentamos fazer o nosso melhor para evitar a confusão: A organização dos trabalhadores deve ser clara e não misturada entre Koach LaOvdim e Histadrut.

Um sucesso: O Histadrut tornou-se um pouco mais democrático seguindo o nosso modelo. Os sindicalistas veteranos, por exemplo, sabem que agora podem pedir um pouco mais no processo antes de aceitarem qualquer acordo de salários, por exemplo. Não há um maior envolvimento no dia a dia, mas, no geral, o ambiente mudou.

Muito obrigado por esta entrevista, Yaniv Bar Ilan.

1 de Maio de 2013

Publicado por Alternative News

Tradução de Noémia Oliveira para o Esquerda.net

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