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Marwan Barghouti, símbolo de um povo aprisionado

Marwan Barghouti está detido há 11 anos consecutivos e já cumpriu uma pena total de 17 anos. O deputado e dirigente palestiniano foi sequestrado pelo Estado de Israel, e já foi condenado a várias penas de prisão perpétua. Barghouti é talvez o rosto mais conhecido entre os mais de 4900 presos políticos palestinianos.
Imagem de Marwan Barghouti pintada num muro: A situação dos presos políticos palestinianos, tal como a colonização, provam que a “catástrofe” prossegue, perante a inércia da comunidade internacional. Foto de SP Foto's

A questão dos presos políticos é um dos casos de violação do direito internacional por Israel. Medidas como a transferência de detidos para prisões israelitas, a prisão de 236 menores (39 com menos de 16 anos) e a “detenção administrativa” de 168 palestinianos entre os quais 8 deputados, que permite períodos de detenção de seis meses, indefinidamente renováveis, sem julgamento nem culpa formada, revelam o desrespeito israelita pelo direito internacional e por normas elementares de justiça num Estado de direito. Muitos não recebem visitas de familiares, às vezes nem de advogados. Desde 1967, cerca de 800 mil palestinianos, 20% da população, foram detidos nos territórios ocupados. Não existe nenhuma família palestiniana que não tenha sido afetada pela prisão de um familiar próximo. Todo este quadro tem despoletado centenas de greves de fome, que se prolongam até hoje. Entre os detidos, 77 já cumpriram mais de 20 anos de pena, 105 estão presos desde antes dos acordos de Oslo, ou seja, há mais de 20 anos.

Em 27 e 28 de Abril participei em Ramallah (Cisjordânia, Palestina), integrada na delegação da Esquerda Unitária no Parlamento Europeu (GUE/NGL), na conferência internacional sobre presos políticos palestinianos, sob o lema “Liberdade e Dignidade". Mais de cem participantes de todo o mundo: entre eurodeputados, deputados de parlamentos nacionais e do parlamento palestiniano, membros de ONG’s e ativistas juntaram-se a representantes de organizações palestinianas como a Fatah, FDLP, Iniciativa Palestiniana. A questão dos presos políticos palestinianos foi o elo de ligação.

Os 14 deputados palestinianos (da Cisjordânia ou de Gaza) nas cadeias israelitas foram eleitos democraticamente em sufrágio justo e livre, como reconheceram as instâncias internacionais. Razão pela qual nenhum parlamento democrático no mundo pode ignorar a situação. No Parlamento Europeu aprovamos em Março uma resolução que exige a libertação de TODOS os presos políticos palestinianos, incluindo Marwan Barghouti. Terá a Assembleia da República coragem para fazer o mesmo?

Em Dezembro passado, Portugal reconheceu a Palestina como membro observador da ONU. Será o governo português cúmplice do desrespeito das resoluções da ONU que já condenaram Israel por violação do direito internacional em matéria de presos políticos? Uma situação como esta, que envolve também casos de tortura, não se compadece com neutralidade.

Em Agosto de 2005, o maestro argentino-israelita-palestiniano Daniel Barenboim organizou em Ramallah um concerto memorável da Orquestra East Western Divan (fundada em conjunto com o professor palestiniano Edward Said), difundido em direto para todo o mundo pelo canal ARTE. Barenboim declarou então que os israelitas só poderão ser livres quando os palestinianos o forem. Oito anos depois, no 65º aniversário da Nakba, a “catástrofe” que desabou sobre o povo palestiniano, Israel continua a ignorar as palavras sábias do maestro e a violar impunemente a lei internacional. A situação dos presos políticos palestinianos, tal como a colonização, provam que a “catástrofe” prossegue, perante a inércia da comunidade internacional.

Sobre o/a autor(a)

Professora universitária. Ativista do Bloco de Esquerda.
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Neste dossier:

Terceira Intifada na Palestina

A terceira Intifada, a revolta dos palestinianos contra o ocupante, já começou. Mas desta vez assume a forma da mobilização de massas não-violenta contra o regime de apartheid imposto por Israel, pela libertação dos presos e contra a extensão dos colonatos. Esta é a opinião de Mustafa Barghouti, líder da Iniciativa Nacional Palestina. Neste dossier, coordenado por Luis Leiria, procuramos atualizar a situação da luta dos palestinianos, incluindo artigos, entrevistas, relatos do local, reportagens.

A terceira Intifada

As “aldeias de tendas” e as manifestações semanais são algumas das táticas do movimento de resistência popular não-violento que vêm a crescer e a ganhar dinâmica nos territórios palestinianos ocupados por Israel. Para o médico Mustafa Barghouti, que dirige a Iniciativa Nacional Palestiniana, a terceira Intifada já começou, seguindo um modelo diferente e sem esperar ordens vindas de cima.

Artigo publicado originalmente na revista Vírus nº3.

Uma visita a Gaza, prisão a céu aberto

Entre os dias 1 e 3 de dezembro de 2012, a eurodeputada Alda Sousa visitou Gaza, numa delegação internacional de que fez parte também a deputada Helena Pinto. Foram os primeiros estrangeiros a entrar no território depois dos intensos bombardeios israelitas da chamada operação “Pilar de defesa”. Este é um caderno dessa viagem. As fotografias são de Ricardo Sá Ferreira.

O que foi alcançado pela Fatah? Não muito

Depois de anos e anos de negociação e compromisso com o Estado de Israel, os palestinianos estão mais distantes do que nunca de obter o seu próprio Estado, afirma Arafat Shoukri, Diretor Executivo do Centro de Retorno Palestiniano (PRC) e Presidente da Campanha Europeia para Acabar com o Cerco a Gaza. Entrevista de Ricardo Sá Ferreira

Gaza: “Quem quereria viver num sítio como este?”

As condições sanitárias estão a deteriorar-se rapidamente e se o problema não for resolvido esta situação poderá ter um grande impacto na saúde do povo da Faixa de Gaza. Por PCHR/Narratives

Paz sem Terra: os colonatos de Jerusalém Oriental e o processo de paz mediado pelos EUA

A construção destes novos colonatos em Jerusalém Ocidental pode suspender o retomar das conversações entre os dois governos. No entanto, a questão maior é se o próprio processo alguma vez quis debruçar-se sobre uma resolução justa do conflito. Por Sam Gilbert

Os despejos de Sheikh Jarrah, a visão israelita de Jerusalém

A 20 de maio, o Supremo Tribunal israelita vai decidir se a família Shamasneh, da zona de Sheik Jarrah em Jerusalém Oriental, perderá a sua casa para os colonos israelitas. As razões e os métodos por trás do despejo promovido por Israel de mais uma família de Sheik Jarrah ilustram bem a sua política global de expulsar os palestinos em Jerusalém e tornar mais judaica a cidade. (Ver atualização no final do artigo). Por Lea Frehse e Johanna Wagman, AIC

Os prisioneiros palestinianos de Israel

É comum o abuso físico e a humilhação dos detidos por parte das forças israelitas. Com base em numerosas declarações juramentadas, há denúncias de que os detidos foram sujeitos a tentativa de homicídio e violação, e atirados de escadas enquanto vendados, entre várias outras formas de abuso.

Marwan Barghouti, símbolo de um povo aprisionado

Marwan Barghouti está detido há 11 anos consecutivos e já cumpriu uma pena total de 17 anos. O deputado e dirigente palestiniano foi sequestrado pelo Estado de Israel, e já foi condenado a várias penas de prisão perpétua. Barghouti é talvez o rosto mais conhecido entre os mais de 4900 presos políticos palestinianos.

Campeonato europeu de sub-21 em Israel: cartão vermelho ao Apartheid

A decisão da UEFA de manter Israel como o país anfitrião do Campeonato Europeu de sub-21 no próximo mês provocou a revolta de grupos comunitários de solidariedade com o povo palestino. Por Loretta Mussi, Nena News

Resistência de ontem, resistência de hoje

Os palestinianos em Ramallah, Jenin, em Gaza, resistem para sobreviver, numa luta diária e por vezes nada heroica, para proteger a sua existência, manter a ligação à sua terra e à sua pátria, para proteger a sua dignidade. Por Michel Warschawski, Alternative Information Center

Estado de Israel: o rufião mimado

Israel quebrou todos os compromissos que alicerçam o cessar-fogo precário, entre o Estado de Israel e a liderança do Hamas, e expande a ocupação de forma silenciosa. O poder que domina em Israel comporta-se como um rufião mimado que tem aquilo que quer e dispensa qualquer puxão de orelhas.

Israel já ganhou a guerra civil síria

O seu principal inimigo militar deixou de existir, o contexto em que os palestinianos desenvolvem a sua luta de libertação fica mais desfavorável; e a solução do problema da ocupação israelita dos Montes Golã será relegada ainda mais para as calendas. 

Revolucionário Democrático: novo sindicato dos trabalhadores em Israel

A política de trabalho em Israel foi dominada durante décadas por um sindicato único, ligado ao governo com uma tradição fortemente nacionalista. O primeiro sindicato independente e democrático foi fundado há apenas seis anos em Israel. Koach LaOvdim - Poder aos Trabalhadores – tem conseguido desde então mobilizar dezenas de milhares de trabalhadores e conta com mais de 12.000 membros em 2013. Por Centro de Informação Alternativa (AIC)