A questão dos presos políticos é um dos casos de violação do direito internacional por Israel. Medidas como a transferência de detidos para prisões israelitas, a prisão de 236 menores (39 com menos de 16 anos) e a “detenção administrativa” de 168 palestinianos entre os quais 8 deputados, que permite períodos de detenção de seis meses, indefinidamente renováveis, sem julgamento nem culpa formada, revelam o desrespeito israelita pelo direito internacional e por normas elementares de justiça num Estado de direito. Muitos não recebem visitas de familiares, às vezes nem de advogados. Desde 1967, cerca de 800 mil palestinianos, 20% da população, foram detidos nos territórios ocupados. Não existe nenhuma família palestiniana que não tenha sido afetada pela prisão de um familiar próximo. Todo este quadro tem despoletado centenas de greves de fome, que se prolongam até hoje. Entre os detidos, 77 já cumpriram mais de 20 anos de pena, 105 estão presos desde antes dos acordos de Oslo, ou seja, há mais de 20 anos.
Em 27 e 28 de Abril participei em Ramallah (Cisjordânia, Palestina), integrada na delegação da Esquerda Unitária no Parlamento Europeu (GUE/NGL), na conferência internacional sobre presos políticos palestinianos, sob o lema “Liberdade e Dignidade". Mais de cem participantes de todo o mundo: entre eurodeputados, deputados de parlamentos nacionais e do parlamento palestiniano, membros de ONG’s e ativistas juntaram-se a representantes de organizações palestinianas como a Fatah, FDLP, Iniciativa Palestiniana. A questão dos presos políticos palestinianos foi o elo de ligação.
Os 14 deputados palestinianos (da Cisjordânia ou de Gaza) nas cadeias israelitas foram eleitos democraticamente em sufrágio justo e livre, como reconheceram as instâncias internacionais. Razão pela qual nenhum parlamento democrático no mundo pode ignorar a situação. No Parlamento Europeu aprovamos em Março uma resolução que exige a libertação de TODOS os presos políticos palestinianos, incluindo Marwan Barghouti. Terá a Assembleia da República coragem para fazer o mesmo?
Em Dezembro passado, Portugal reconheceu a Palestina como membro observador da ONU. Será o governo português cúmplice do desrespeito das resoluções da ONU que já condenaram Israel por violação do direito internacional em matéria de presos políticos? Uma situação como esta, que envolve também casos de tortura, não se compadece com neutralidade.
Em Agosto de 2005, o maestro argentino-israelita-palestiniano Daniel Barenboim organizou em Ramallah um concerto memorável da Orquestra East Western Divan (fundada em conjunto com o professor palestiniano Edward Said), difundido em direto para todo o mundo pelo canal ARTE. Barenboim declarou então que os israelitas só poderão ser livres quando os palestinianos o forem. Oito anos depois, no 65º aniversário da Nakba, a “catástrofe” que desabou sobre o povo palestiniano, Israel continua a ignorar as palavras sábias do maestro e a violar impunemente a lei internacional. A situação dos presos políticos palestinianos, tal como a colonização, provam que a “catástrofe” prossegue, perante a inércia da comunidade internacional.