Resistência é não se render. Por natureza extemporânea, a resistência não pensa nem age de harmonia com o seu tempo, de acordo com o ar dos tempos, em paz com a sua época, mas contra a maré, contra o tempo. “Era nestes termos que o meu amigo, ativista e filósofo Daniel Bensaid, falava de resistência, retomando, talvez inesperadamente, a definição que Maimónides tinha dado de coragem. "O que é a verdadeira coragem"? perguntava o grande sábio judeu da Andaluzia judaico-árabe. "Não é o guerreiro destemido que investe sem recear os golpes, mas alguém que não teme o que os outros possam dizer ". Nadar contra a corrente quando for necessário, essa é a verdadeira definição de coragem, para Maimónides.
Resistir é por vezes uma escolha – como o foi para a maioria dos resistentes franceses que hoje admiramos. Recusando resignar-se e fechar os olhos, arriscando a vida para manter a sua dignidade e a de outros, palavras do apelo que lançaram os revoltosos do Gueto de Varsóvia.
Mas é muitas vezes por falta de alternativa que se resiste e se tenta sobreviver. O grande combatente da resistência Marek Edelman, líder socialista da revolta do Gueto de Varsóvia, costumava responder ironicamente quando historiadores ou até outros participantes na revolta referiam o carácter heroico da sua conduta: "foi a mera tentativa de sobreviver, uma tentativa de evitar o embarque para os campos da morte, mais nada. Não houve nisso qualquer heroísmo".
Os palestinianos em Ramallah, Jenin, em Gaza, resistem para sobreviver, numa luta diária e por vezes nada heroica, para proteger a sua existência, manter a ligação à sua terra e à sua pátria, para proteger a sua dignidade. É uma forma de resistência a que o povo palestiniano chama Sumoud.
Citando o Talmude babilónico, o meu pai, Rabbi Warshaws, que lutou na Segunda Grande Guerra ao lado da resistência na Montanha Negra, perto de Mazamet, no Tarn, ensinou-me este paradoxo: "aqueles que agem por não terem uma alternativa têm MAIS mérito do que aqueles que o fazem por opção".
O paradoxo é apenas aparente: ir contra a maré e escolher resistir, faz de nós em certos momentos da história, seres humanos especiais, que o sentimento de dever cumprido premeia. Pelo contrário, resistir quando não se tem alternativa é ir buscar ao mais fundo de si mesmo o que nos vai dar o que é nosso. Isso a que o nosso querido Stéphane Hessel chamava a nossa INDIGNAÇÃO.
O facto de a expressão "indignados" se ter tornado a identidade de tantos milhares de jovens e velhos em todo o planeta pode e deve reconfortar-nos: de Gaza a Nova York, de Madrid a Tunes, até mesmo em Tel Aviv, a resistência ao mau espírito do tempo – dinheiro sujo e desejo de poder absoluto, está mais viva do que nunca.
Continuai a indignar-vos! Continuai a resistir! Continuai a defender a nossa humanidade!
Discurso proferido por Michael Warschawsky no comício "Resistências de ontem e de hoje" no Glieres Platteau, França (19 de Maio 2013).
Tradução de Natércia Coimbra para o Esquerda.net