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Pelo direito à morte assistida

Se alguma vez chegar o diagnóstico e eu decidir que quero marcar o dia para o meu fim, vai ser fácil:
- abro o armário da medicação lá no hospital e tiro umas ampolas de tiopental (ou propofol, ou ketamina, ainda não escolhi), rocurório e cloreto de potássio. Levo também material de punção, uns balões de soro ou até um seringa perfusora (de um dia para o outro ninguém vai notar a falta dela);
- Faço o que tenho a fazer: uma festa de despedida, um último vídeo, vários telefonemas, cartas, o que for...
- Fecho-me sozinho no quarto para não incriminar ninguém e monto o aparato. Ponho a música de que gosto e dou início ao processo.
- Morrerei tranquilamente, em paz, rumo ao infinito, devolverei os meus átomos ao universo para que possam ser utilizados na construção de outros seres vivos, para voltarem aos oceanos ou quem sabe para serem fundidos noutros elementos, no interior de uma estrela distante;
- Chorar-me-ão: família, amigos, doentes, conhecidos, colegas de trabalho. Mas saberão todos eles que não sofri, fui em paz, anestesiado, sem dor. Recordarão as minhas últimas palavras, a minha despedida. Lembrar-se-ão de mim como sempre fui em vida - independente, um pouco selvagem até! Saberão que morri como vivi, intensamente.
Sou um sortudo. Porque sou médico. Porque tenho acesso a coisas que outros não têm. Porque mesmo estando ainda vivo e saudável, esta possibilidade me dá alguma tranquilidade em relação à morte. Não posso dizer o mesmo dos meus pais, do resto da família, da maioria dos meus amigos. Não os posso ajudar, sem correr o risco de ser preso.
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