Mobilização pelo clima rumo à COP25

A próxima cimeira do clima arranca esta semana em Madrid, numa altura em que já poucos acreditam ser possível cumprir as metas deste século para travar a catástrofe climática. Neste dossier ouvimos ambientalistas, divulgamos o manifesto da contracimeira e promovemos o debate sobre alternativas. Dossier organizado por Luís Branco.

30 de novembro 2019 - 20:37
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No arranque da 25ª Conferência das partes à Convenção quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP25) — a cimeira que serve para acompanhar a concretização dos compromissos assumidos pelos países para evitar as alterações climáticas — não há grande volta a dar quanto ao balanço do que foi feito desde 1992. Foi nesse ano que os governos se juntaram no Rio de Janeiro para deixarem promessas de como iriam cuidar do planeta e muitos dos jovens que participam hoje nas greves climáticas estudantis por todo o mundo ainda nem eram nascidos.

Mais de um quarto de século depois, os cientistas do clima já deixaram o aviso de que só muito dificilmente se evitará um aquecimento da temperatura média global acima das metas traçadas até ao fim do século. Isso coloca ao planeta um cenário de destruição anunciada, com milhões de pessoas deslocadas devido à subida do nível do mar, das vagas de calor ou dos fenómenos meteorológicos extremos que se tornaram cada vez mais frequentes.

Com os governos dominados pelo lóbi dos combustíveis fósseis, que procura por todos os meios evitar que o seu negócio predador do planeta seja ameaçado, ambientalistas como Francisco Ferreira, fundador da associação Zero, reconhecem que mesmo no cenário mais seguro apresentado pelos cientistas do IPCC, “é extremamente difícil” cumprir as metas de descarbonização propostas, dado o historial recente. Sinan Eden, da Climáximo, tem ainda menos esperança no que se vai passar dentro da cimeira de Madrid: “será igual ao que saiu das 24 cimeiras anteriores: nada. Só que cada vez ficamos com menos tempo”, avisa. Neste dossier quisemos ouvir as perspetivas destas duas gerações de ativistas ambientais sobre o momento atual e publicamos o apelo à participação na manifestação de 6 de dezembro e na Cimeira Social pelo Clima em Madrid, de 7 a 13 de dezembro. A participação portuguesa está a ser preparada por dezenas de coletivos e o Bloco de Esquerda também organiza uma viagem a Madrid no dia da manifestação, com partidas de Lisboa e Porto no dia 5 às 22h e regressos no dia 6 no dia 8 (inscrições aqui).

Neste dossier, o autor ecossocialista Daniel Tanuro faz um balanço negativo “de A a Z” das 24 COP realizadas até hoje e conclui que sem um plano de urgência que mude radicalmente a economia e a organização da sociedade, a catástrofe é mesmo inevitável. Uma das propostas que desenvolve é a da redução da jornada de trabalho até duas horas por dia nos países da OCDE, sem perda de salário e de direitos. Esse tempo basta para produzir tudo o que realmente necessitamos, defende Tanuro, enquanto o planeta fica a salvo de mais poluição. 

Ainda a propósito da relação entre ambiente e trabalho, a proposta do Green New Deal protagonizada por Alexandria Ocasio-Cortez nos Estados Unidos tem sido objeto de debate, mas também de muita caricaturização. No seu artigo publicado neste dossier, Aviva Chomsky reflete sobre a forma como a direita e os media norte-americanos têm distorcido as críticas vindas do mundo laboral a uma proposta que tem muito de criticável até do ponto de vista dos movimentos ambientalistas.

Se proteger o planeta implica reduzir a produção e os transportes, também obrigará a repensar a forma como concebemos a tecnologia, defende o economista espanhol Daniel Albarracín. Afastando as ilusões vendidas pelo capitalismo verde acerca de uma nova revolução industrial, o autor desenvolve aqui a necessidade de sucessivas transições energéticas, que terão de ser conduzidas por profundas transformações sociais e políticas. 

É preciso não esquecer que esta cimeira deveria ter tido lugar em Santiago, no Chile, um país que vive uma convulsão social por causa das políticas neoliberais que agravaram a miséria e a desigualdade. O presidente Piñera não quis que os dez mil participantes testemunhassem a repressão brutal sobre o povo chileno que já fez dezenas de mortos, mas o movimento que preparava a contracimeira não baixou os braços. Publicamos neste dossier a resposta do movimento global pela justiça climática ao cancelamento da cimeira no Chile.

Por fim, juntámos dois artigos já publicados no esquerda.net e que têm vantagem em ser lidos em conjunto com o resto dos textos originais: o do cientista Keith Shine, que resume o último relatório do IPCC sobre os quatro cenários para limitar o aumento da temperatura média global a 1.5ºC; e o de outro cientista, Wolfgang Knorr, que põe em causa a forma como a ciência climática apresenta os seus trabalhos e conclusões, defendendo que prestariam um melhor serviço à humanidade neste momento crítico se se concentrassem nas vulnerabilidades do planeta a curto prazo em vez de projetarem cenários a largas décadas de distância. 

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