Mais de 60% de Portugal continental está em seca extrema

No final do mês de fevereiro de 2022, mais de 60% do território de Portugal continental estava em seca extrema, 29,3% em seca severa e 4,5% em seca moderada, de acordo com o índice meteorológico de seca (PDSI) do Instituto português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Texto de Carlos Santos

13 de março 2022 - 22:00
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Margens sem água na Ribeira de Alge, Figueiró dos Vinhos, 1 de fevereiro de 2022 – Foto de Paulo Novais/Lusa
Margens sem água na Ribeira de Alge, Figueiró dos Vinhos, 1 de fevereiro de 2022 – Foto de Paulo Novais/Lusa

No final de fevereiro de 2022, segundo o IPMA, os distritos de Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal, Évora, Beja e Faro estavam em situação de seca extrema. O instituto assinalava também que no final desse mês também se verificou um agravamento da situação de seca meteorológica em todo o território com um aumento da área nas classes de seca mais graves, severa e extrema.

A distribuição percentual por classes do índice meteorológico de seca (PDSI), era a seguinte:

  • normal: 0%
  • seca fraca: 0%
  • seca moderada: 4.5%
  • seca severa: 29.3%
  • seca extrema: 66.2%

Fevereiro muito quente e seco

De acordo com o IPMA, o mês de fevereiro de 2022 em Portugal continental foi muito quente e extremamente seco.

Foi o décimo fevereiro mais quente desde 1931 e o quinto desde 2000, tendo a temperatura média sido superior em +1.33ºC, ao valor médio normal do período 1971-2000. O institituto destaca o dia 22, em que 76% das estações metereológicas registaram temperaturas máximas superiores a 20ºC.

Fevereiro de 2022 foi também o terceiro mais seco desde 1931 (mais secos só foram 2012 e 1934). O valor médio da quantidade de precipitação foi de 10.3 mm, correspondendo a 10% do valor normal do período 1971-2000.

Secas mais frequentes e graves

Em entrevista à agência Lusa, realizada em 1 de abril de 2019, a climatologista Vanda Pires (da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera – IPMA) salientou que a partir do ano 2000 as situações de seca em Portugal continental tornaram-se mais frequentes e intensas, devido às alterações climáticas e ao aumento de frequeência dos fenómenos extremos.

"As alterações climáticas estão a tornar as situações de seca mais graves e habituais. Os fenómenos extremos que temos tido nos últimos tempos estão a acontecer com mais frequência e trazem maior impacto. O aumento da temperatura - que tem ocorrido nas últimas décadas - tem implicações em todo o sistema meteorológico que existe e isto vai ter implicações nas ondas de calor, nas situações de seca, na falta de precipitação", afirmou a climatologista.

"A situação geográfica do nosso país é favorável à ocorrência de episódios de seca. Vamos ter secas mais frequentes, mais intensas, num cenário de alterações climáticas e temperaturas mais altas", sublinhou Vanda Pires, acrescentando que "obviamente que há zonas do globo em que a precipitação vai aumentar, mas em Portugal isso não deverá acontecer".

Lembrando que a seca mais prolongada que se verificou em Portugal continental aconteceu entre 1943 e 1946, abrangendo mais de metade do território, Vanda Pires afirmou:

"A partir dos anos 1980 e sobretudo a partir de 2000 começámos a ter uma maior frequência de situações de seca. Tivemos vários períodos de tempo seco em 2009, em 2012, 2015 e em 2017/18. Mas, foi em 2004/2005 que tivemos a seca mais significativa e intensa em Portugal que abrangeu todo o território".

A seca de 2004/2005 foi a mais grave pela severidade, duração e extensão salientou a climatologista e afirmou: "No futuro, o panorama deverá agravar-se. Até ao final deste século, as projeções indicam que haja uma diminuição da precipitação em cerca de 15% dependendo da região. Na região sul pode chegar aos 30%".

Aumento do risco de seca metereológica

No estudo “Riscos de secas em Portugal Continental”, de Vanda Pires, Álvaro Silva e Luísa Mendes, publicado na revista da Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança – 2010 e disponível aqui, foi caraterizada a evolução histórica das situações de seca, através do índice meteorológico PDSI, desde 1901.

Referindo que as alterações climáticas que têm ocorrido no apontam para o aumento da temperatura média global e também para o aumento da frequência e intensidade dos fenómenos climáticos extremos, os autores concluem:

“A maior frequência de situações de seca meteorológica que se verifica em Portugal Continental nas últimas décadas, é indicativo de um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que poderá obviamente trazer um aumento dos impactos, nomeadamente, ao nível dos sectores agrícola e hidrológico e necessariamente social”.

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