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Líbia: intervenção da Nato quis acabar com as revoltas árabes

As origens dos protestos na Líbia são muito semelhantes aos das outras revoluções da Primavera árabe, e intimamente influenciadas pelo que já tinha ocorrido na Tunísia e no Egito: o derrube de Bal Ali e de Hosni Mubarak. Em 15 de fevereiro, quatro dias depois da renúncia de Mubarak, ocorrem as primeiras manifestações na frente de uma esquadra de polícia de Benghazi, em protesto pela prisão do advogado de diretos humanos Fathi Terbil, violentamente reprimidas.
Em Al Baida e Zintan, milhares de manifestantes começaram a pedir o fim do regime de Khadafi.
A repressão desencadeada contra estas manifestações deu origem à convocatória do primeiro “Dia de Fúria” em 17 de fevereiro. Neste dia, em Benghazi, Ajdabiya, Derna, Zintan, e Al Baida, a polícia disparou munições reais sobre os manifestantes, que incendiaram diversos edifícios públicos. Em Behgazi, desencadeou-se uma verdadeira insurreição, que forçou a retirada da polícia e do Exército da cidade, ao mesmo tempo que militares se juntavam aos manifestantes. No dia seguinte, helicópteros bombardearam os manifestantes.
Em 27 de fevereiro, foi fundado o Conselho Nacional de Transição em Benghazi. Em Tripoli, desencadeava-se a mais feroz repressão para impedir que se repetissem os acontecimentos de Benghazi. Nessa altura, o levante já tinha expulsado as forças de Khadafi de Tobruk, Al Baida, Zawiya, Zuwara, Sabratha, Sorman, além de cidades importantes como Misurata e Benghazi, e portos como Ra's Lanuf e Brega. Mas em março, o regime desencadeou um contra-ataque militar que o fez retomar parte das cidades e chegar perto de Benghazi.
Em 17 de março, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma zona de exclusão aérea na Líbia, numa resolução que autorizava “todas as medidas necessárias” para proteger a população civil contra as forças de Khadafi. Cinco países – incluindo China e Rússia, membros permanentes do Conselho – abstiveram-se. A expressão “todas as medidas necessárias” deixou em aberto uma eventual intervenção militar internacional, à exceção de uma invasão terrestre, o que veio efetivamente a ocorrer.
No Parlamento Europeu, os deputados Miguel Portas e Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, votaram contra a zona de exclusão aérea. Miguel Portas explicou que a esquerda é “contra qualquer intervenção militar, incluindo a medida que lhe pode abrir as portas: a zona de exclusão aérea”. E deixou um alerta: “Nós temos a experiência, sabemos como começam as medidas militares e sabemos que elas nunca acabam quando começam”.
Um dia depois, foi lançada a ofensiva militar na Líbia, liderada pelos EUA. Aviões franceses abateram quatro tanques de forças pró-Kadhafi e os EUA iniciaram o lançamento de mísseis cruzeiro.
“A intervenção dos EUA-NATO na Líbia, com a cobertura do Conselho de Segurança da ONU, é parte de uma resposta orquestrada para mostrar apoio ao movimento contra um ditador em particular e, ao fazê-lo, acabar com as rebeliões árabes, pondo-as sob o controlo ocidental, confiscando o seu ímpeto e a sua espontaneidade e tentando restaurar o status quo anterior”, disse, em abril, o escritor e ativista Tariq Ali.
Apesar das centenas de milhares de mísseis e bombas usados pela Nato, a guerra que se seguiu entrou num impasse que durou alguns meses, até que as tropas de Khadafi entraram em colapso.
Em 21de Agosto, as forças do CNT anunciaram ter tomado Tripoli. Ainda assim, as tropas de Khadafi reagruparam-se em Sirte e resistiram até à captura e assassinato do coronel, em 20 de Outubro.
O próprio CNT calculou que 25 mil pessoas morreram no conflito, e 50 mil ficaram feridas.
O Conselho Nacional de Transição (CNT) anunciou três dias depois que o país seria regido no futuro pela sharia, a lei islâmica.
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