O 25 de janeiro de 2011 passou à história do Egito como o "Dia da Ira", que marcou o início dos protestos que levariam à queda do presidente Hosni Mubarak. Influenciados pelo levante que levou ao derrube de Ben Ali na Tunísia, os manifestantes foram às ruas em várias cidades, como a capital, Cairo, com mais de 15 mil na Praça Tahrir, Alexandria, Suez e Ismaília. Na mira dos manifestantes estavam as más condições de vida, o desemprego, a falta de moradia, a corrupção, a falta de liberdade de expressão.
Os protestos foram crescendo nos dias seguintes, defrontando a repressão policial e passando a exigir o fim do regime do presidente Hosni Mubarak, que estava no poder há quase 30 anos.
Num primeiro momento, Mubarak decretou o estado de sítio, mas sem sucesso. Diante dos confrontos com a polícia e com milícias pró-Mubarak, o exército anunciou que não iria reprimir as manifestações. No dia 31, numa tentativa de desviar os protestos, Mubarak, dissolveu o governo e nomeou o militar e ex-chefe da Direção Geral de Inteligência Egípcia, Omar Suleiman, como vice-presidente, encarregando o ministro da aviação e ex-chefe da Força Aérea do Egito, Ahmed Shafik, para formar um novo governo. No dia 1 de fevereiro, Mubarak anunciou que não seria candidato à reeleição em setembro, mas não renunciou. Em resposta, mais de um milhão de pessoas saíram às ruas a exigir a sua saída imediata do poder.
O objetivo dos manifestantes foi enfim conseguido no dia 11 de fevereiro, quando o vice-presidente egípcio Omar Suleiman anunciou, pela emissora estatal de televisão, a renúncia de Hosni Mubarak.
Novos protestos e eleições
Os protestos regressariam, porém, em novembro. No dia 21 de novembro, o governo interino apresentou a sua demissão depois dos regresso das manifestações à praça Tahrir, sendo reprimidos pela exército. Mais de 33 pessoas morreram e 2.000 ficaram feridas. Os manifestantes exigiam que o novo regime não fosse uma mera extensão do de Mubarak.
Entretanto, a Amnistia Internacional acusava o exército de abusos contra os direitos humanos “piores que os da era Mubarak” e afirmava que as Forças Armadas “fracassaram totalmente” na sua promessa de melhorar a situação no país.
Em dezembro, Adam Hanieh, professor da Universidade de Londres, em entrevista ao Esquerda.net, fazia um primeiro balanço da primeira rodada das eleições egípcias. O bloco liderado pela Irmandade Muçulmana (IM) venceu, seguido pelo partido Salafista AlNour e pelo Bloco Egípcio (uma coligação de esquerda-liberal e forças pró-negócios que se uniu em torno de um programa de oposição à IM). A Esquerda esteve representada pelo Revolution Continues Alliance (RCA), que juntou forças socialistas, partidos recém-criados saídos da revolução e um grupo dissidente da juventude da IM e teve cerca de 3% “um resultado bastante impressionante para uma nova coligação com poucos recursos”.
Para este professor, a vitória da IM foi indicativa da sua profunda implantação na sociedade e do seu acesso a recursos, lembrando que os partidos islamitas foram muito bem financiados (particularmente pelos países árabes do Golfo Pérsico), o que fez muita diferença.
Na opinião de Adam Hanieh, as mobilizações nas semanas que antecederam as eleições foram indicativas da crescente fúria face à tentativa dos militares para manterem o controlo. E mostraram também até onde os militares estão dispostos a ir para manter o controlo. “O combate para desalojar os militares continuará a ser um eixo fundamental de luta”, disse, alertando para o perigo do crescimento da repressão militar e para o facto de ter havido uma reconstrução do aparelho repressivo.
“As forças armadas são obviamente o elemento institucional central da contra-revolução. Mas eu penso que a liderança da IM também precisa ser vista como parte da tentativa de fazer recuar a luta popular”, disse.