No dia 14 de janeiro, centenas de milhares de tunisinos, concentrados nas ruas e praças das principais cidades do país, comemoraram a notícia da fuga do país do presidente Zine El Abidine Ben Ali, que ocupava o poder desde 1987. Era a vitória da primeira grande revolta que iria alastrar por grande parte do mundo árabe. Pelo menos 70 tunisinos morreram nas manifestações que provocaram a queda da ditadura. O ditador deposto seria acolhido pela Arábia Saudita.
Jovem imolou-se em protesto
Tudo começara em 17 de dezembro de 2010, quando Mohamed Bouazizi, um jovem de 26 anos da cidade de Sidi Bouzid se imolou em protesto contra a constante perseguição da polícia, que o assediava e impedia de levar a cabo a sua atividade de vendedor ambulante. O jovem ganhava aproximadamente cem euros por mês que lhe serviam para sustentar a mãe, um tio, um meio irmão e pagar a faculdade de uma irmã.
Os primeiros protestos em Sidi Bouzid foram violentamente reprimidos, e imagens dessa repressão começaram a correr o país através do Facebook. Transferido para Tunes, Mohamed Bouazizi ainda seria visitado pelo próprio Ben Ali no hospital, numa tentativa desesperada de acalmar os protestos, mas faleceria no dia 4 de janeiro.
A partir daí, a mobilização alastrou-se e multiplicou-se, recebendo o apoio de islamistas, comunistas e sindicatos, incluindo a central sindical União Geral dos Trabalhadores Tunisinos (UGTT). Nem a repressão policial, nem as manobras de Ben Ali, que se apressou a anunciar a criação de novos empregos, foram capazes de acalmá-la.
Primeiro governo de transição durou pouco mais de um mês
No dia 17 de janeiro, Mohammed Ghannouchi, o último primeiro-ministro do regime do ditador, anunciou a formação de um novo governo de união nacional, que incluía os líderes de três partidos da oposição legal.
O novo gabinete, porém, foi capaz de se afirmar. Dez dias depois, seis membros do partido do ditador, o RCD (Reunião Constitucional Democrática) renunciaram aos cargos, quando se multiplicavam as manifestações diante das sedes do partido, exigindo a sua ilegalização.
No dia 28 de fevereiro, mais de cem mil manifestaram-se em Tunes pela demissão do governo de transição de Ghannouchi, gritando “Chega de encenação”, “Vergonha para este governo”. No final do dia, o primeiro-ministro renunciou, sendo substituído por Beji Caid el Sebsi.
Em 9 de março, um tribunal de Tunes anunciou a dissolução do RCD.
Paridade nas listas eleitorais
Em abril, a Alta Instância para a Realização dos Objetivos da Revolução, um órgão com 155 membros que representa a diversidade das organizações políticas tunisinas, desde os islamitas de En Nahda (Renascimento) ao Partido Comunista dos Operários Tunisinos, e que funcionou como uma espécie de parlamento interino, anunciou a imposição da paridade na composição das listas eleitorais para a Assembleia Constituinte, marcadas para 23 de outubro. Nessa altura, já existiam na Tunísia cerca de 90 partidos legais.
"É uma decisão histórica, sem precedentes, a que tomámos, e espero que venha a servir de exemplo para muitos outros", disse o magistrado Mokhtar Yahyaoui ao El País.
No dia 21 de junho, Ben Ali e a sua mulher, Leila Trabelsi, foram condenados à revelia a 35 anos de prisão por desvio de verbas públicas. O juiz condenou também os réus a pagar multas equivalentes a 35 milhões de dólares (Ben Ali) e 28 milhões de dólares (a mulher).
Islamistas vencem eleições
Nas eleições para a Constituinte, o partido islamista Ennahda (Renascimento) foi o vencedor, com 37,4% dos votos e 89 deputados, num total de 217. Em segundo lugar ficou o Congresso para a República (CPR), com 8,7% e 29 deputados, seguido pelo Petição Popular (6,7% e 26 deputados, pelo Ettakatol - Forum Democrático pelo Trabalho e as Liberdades (7% e 20 deputados), pelo Partido Democrático Progressista (3,8% e 16 deputados), pelo Polo Democrático Modernista (2,7%, e 5 deputados), pelo L'Initiative (3,1% e 5 deputados), pelo Afek Tounes (1,8% e 4 deputados), pelo Partido Comunista dos Operários da Tunísia ( 1,5% e 3 deputados). Outros dez partidos e listas de independentes elegeram deputados.
As eleições foram consideradas e justas pelos observadores internacionais, que registaram apenas “irregularidades menores”.
Mini Constituição
No dia 6 de dezembro, a Assembleia Constituinte reuniu-se para examinar um projeto de organização dos poderes públicos, uma espécie de mini Constituição que permitirá a formação de um novo governo. O projeto foi elaborado em comissão durante cerca de um mês e meio. Entretanto, a situação económica do país começou a degradar-se. Prevê-se que 2011 seja marcado por um crescimento nulo ou mesmo uma contração, o desemprego ultrapassa já os 18% e multiplicam-se as greves e as manifestações.