Extrema-direita e liberalismo, a nova receita do sistema

A nova vaga de partidos de extrema-direita tem aspeto e política económica diferentes das anteriores. Agora, grande parte, é descomplexadamente liberal no seu programa, servindo dessa forma os interesses dos mais poderosos economicamente. Como o prova o Chega em Portugal. Dossier organizado por Carlos Carujo.

09 de fevereiro 2020 - 16:06
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Manifestação anti-fascista em Londres. Dezembro de 2018.
Manifestação anti-fascista em Londres. Dezembro de 2018. Foto de Socialist Apeal/Flickr.

A nova extrema-direita mudou de imagem para ser mais apresentável. Mas não só. O velho fascismo era corporativista para matar o sindicalismo e monopolista para reforçar o poder dos grandes empresários que o apoiavam. As extremas-direitas que se lhe seguiram em tempo de globalização agarravam-se com unhas e dentes ao protecionismo. Esta nova onda que cresce é, muitas vezes, descomplexadamente liberal no seu programa. Serve assim os interesses dos mais poderosos economicamente.

Em Portugal é o Chega que cumpre este papel, gritando indignação contra o sistema por um lado, sendo um seu acérrimo seguidor do liberalismo que pretender destruir o Estado Social por outro. Não faz nada de novo. Copiou o modelo do Vox aqui ao lado e de Salvini na Itália.

A nova extrema-direita é um fenómeno que irrompe um pouco por toda a Europa, e de que apresentamos aqui um atlas imperfeito, tendo chegado a vários governos com plataformas diferenciadas, como nos explicam Stefanie Ehmsen e Albert Scharenberg,mas a vaga é mundial. E a tendência para um liberalismo de extrema-direita é comum a outras paragens. O sociólogo Ruy Braga explica-nos como, no Brasil, o governo de Bolsonaro reformou a Segurança Social contra os direitos dos trabalhadores, privatizou e precarizou ainda mais as relações de trabalho, para além do seu discurso sexista, racista, homofobo e autoritário. A mesma tendência nos Estados Unidos, onde Trump, ídolo de muitos destes movimentos, alia um discurso intensamente discriminatório e ineditamente violento para o cargo que ocupa com uma governação em benefício dos mais ricos.

Através de análises mais globais, Jaime Pastor analisa esta relação entre liberalismo e extrema-direita, sintetizando algumas das suas caraterísticas, e Fernando Rosas inscreve-a na comparação histórica entre novas e velhas extrema-direitas.

O outro lado da moeda, é que o casamento entre liberalismo e extrema-direita não é tão contra-natura como se poderia pensar. Francisco Louçã mostra-nos as simpatias autoritárias de alguns dos ídolos dos liberais. E, ao explicar liberalismo e neoliberalismo, João Rodrigues, também desmistifica a ideia do liberalismo como ideologia e prática da liberdade. A filósofa brasileira Marilena Chauí vai mais longe na sua análise da relação entre autoritarismo e liberalismo, considerando o neoliberalismo como uma forma de “totalitarismo”.

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