Criação monetária endógena e o nexo poupança investimento

No que à relação de causalidade entre poupança e investimento diz respeito, um enorme fosso continua a dividir os economistas. Por Paulo Coimbra, que estará no Fórum Socialismo 2018, a realizar-se no primeiro fim de semana de setembro na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria.

26 de agosto 2018 - 10:20
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O Fórum Socialismo 2018 realiza-se no primeiro fim de semana de setembro na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria.

Enquanto a corrente que se tornou dominante algures na primeira metade dos anos 70 do Séc. XX, onde pontuam economistas neoclássicos, postula a precedência da poupança sobre o investimento, diversas perspectivas alternativas, entre as quais se destaca a Modern Monetary Theory (MMT), defendem que a relação de causalidade é a inversa, ou seja, que o investimento precede e gera a poupança.

Na perspectiva destes últimos, o nexo poupança-investimento é caracterizado por uma expansão ex-ante do crédito que financia decisões autónomas de investimento e possibilita, em circunstâncias determinadas e a discutir durante a apresentação, que a necessária igualdade entre poupança e investimento, condição das regras indisputadas da contabilidade nacional, se materialize ex-post.

Neste quadro, para perceber de onde surge esta capacidade do sistema financeiro de financiar a expansão do investimento, independentemente da poupança acumulada, torna-se também necessário compreender o que é o dinheiro e como este é criado, já que poucos fenómenos são menos transparentes do que a sua origem e o seu fluxo numa economia.

Uma frase, atribuída a Henry Ford, dá conta disso mesmo: “Ainda bem que a maior parte dos Americanos não sabe como na realidade funciona a banca, porque se soubesse havia uma revolução amanhã de manhã”.

Uma parte desta opacidade é deliberada, serve interesses não declarados e muitas vezes apoia-se em controvérsia científica artificialmente fabricada. Outra parte é simplesmente o resultado de ideias e teorias económicas erradas que a apresentação procurará expor.

De facto, na maior parte dos livros adotados pelas faculdades de economia por esse mundo fora ensina-se que o sistema financeiro é um mero intermediário entre as poupanças dos aforradores e a necessidade de financiamento de potenciais investidores. No entanto, na realidade, os bancos não emprestam o dinheiro que têm em depósitos. O ato de conceder crédito cria depósitos. O contrário, portanto, do que se ensina e daquilo em que a maior parte das pessoas acredita como, por exemplo, é cristalinamente explicado pelo Banco de Inglaterra.

Assim, sabendo que o sistema financeiro cria crédito e dinheiro, pode perceber-se também o seu papel central na acumulação de capital e, consequentemente, discutir que circunstâncias institucionais têm de ser politicamente construídas para que o sistema financeiro nacional possa financiar investimento sem provocar inflação e sem depender de poupança prévia de residentes nacionais e sem importação de capital do exterior.

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