Dois estudantes ficaram gravemente feridos em iniciativas ligadas à praxe académica nas Escolas Superiores Agrárias de Coimbra e Elvas. O primeiro lançou-se para um lago de palha e deverá ficar tetraplégico na sequência da praxe no "túnel" situado junto ao picadeiro, enquanto o segundo caiu da muralha do castelo de Elvas depois de participar num "rali das tascas", que levou mais quatro estudantes ao hospital em coma alcóolico.
O caloiro da ESAE deu entrada no hospital de Elvas e foi imediatamente transferido para Badajoz, onde se encontra com prognóstico reservado, tendo-lhe sido diagnosticada uma fractura da coluna cervical e múltiplas lesões graves a nível pulmonar. Os organizadores da praxe negam responsabilidades, chegando o presidente da Associação de estudantes, Diogo Assunção, a dizer que "esta semana não há praxes", mas sim "uma semana de recepção ao caloiro em que só participa quem quer".
Estes incidentes com a praxe nas universidades já provocaram uma morte na última década, mas ninguém foi acusado, apesar dos sinais de espancamento que a autópsia revelou no cadáver de Diogo, um estudante de 22 anos da Universidade Lusíada de Famalicão. Um crime que foi encoberto, ao contrário das denúncias duma estudante da Escola Superior de Santarém que denunciou as praxes violentas na instituição em 2003 e que corre ainda nos tribunais.
O Movimento Anti-Tradição Académica (MATA), que promove iniciativas e denuncias contra a praxe e o autoritarismo, não tem dúvidas que estes casos vieram mudar o discurso dos praxistas, mas não a natureza da humilhação aos que chegam à faculdade.
"Agora todos [associações académicas] dizem que as suas praxes são só brincadeiras sem violência, que servem para integrar os alunos. Mas continua a haver espaço dentro das praxes para abusos, porque quem está acima manda. Tem poder e abusa dele", afirmou Ana Feijão, do MATA, ao Diário de Notícias.
A activista anti-praxe revelou ainda que o ministro do Ensino Superior disse ao tomar posse que as praxes são "fascistas" e contactou o MATA para marcar uma reunião. Mas entretanto, Mariano Gago "deve ter tido assuntos mais urgentes para resolver", conclui Ana Feijão.