Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

A “passificação” do PS tem portanto uma história, que começou com Seguro, e agora prossegue. Contudo, é um processo profundo, pois corresponde à “passificação” da política.

Repetir hoje o apelo a uma guerra civil, aliás apoiado em iniciativas presidenciais recentes como enviar tropa para reprimir manifestações em Los Angeles, ou ameaçar a ocupação de Chicago, cidades governadas por democratas, tem significado.

O que o governo israelita está a fazer não é assegurar o poder de um títere sobre um cemitério: é acender a guerra infinita para se instalar nela. E essa guerra não pode ser ganha.

A nova república instaurada pela revolução de Abril alicerçou-se em três realidades. Agora, esgotou-se. Logo, não estamos a viver um novo ciclo eleitoral, por definição passageiro, mas sim a instalação de um novo regime.

Se é um sistema caótico que regula o país e que é proposto como a sua melhor solução, então o partido que pretende o caos bem pode esperar pela sua hora, que o “sistema” está a trabalhar para ele.

O que aqui quero indicar é a minha opinião sobre os erros de análise que o choque e pavor podem provocar – e que devem ser evitados. O mais importante seria concluir que os resultados eleitorais são a comprovação do valor das propostas políticas. Não são.

A cultura da desesperança infiltra-se de tantas formas, pela noção da inevitabilidade da desumanidade (o apagão de Gaza) ou da condenação à desigualdade, a incerteza sobre o futuro, todo esse trauma vai fazendo uma forma de política. É dessa desesperança que é preciso escampar.

Esta medida, que provoca o pânico nos mercados bolsistas e ainda mais incerteza económica, pode gerar uma recessão que arraste todas as economias. Recessão com inflação, ou trumpflação, é um perigo que nos ameaça. É o que dá ter um fascista na Casa Branca.

Os países da União Europeia gastam em armamento e por ano o triplo do que gasta a Rússia. A Europa tem uma gigantesca superioridade militar em relação à Rússia (e, já agora, gasta em despesa militar mais do que China). 

Resta saber se o compromisso com uma campanha esclarecedora e fora da lama, com propostas e compromissos fortes, com a rejeição frontal desta zizânia indecorosa e pantanosa, reforçará a esquerda. Digo-vos que estou certo de que sim.