Taxa é o termo escolhido para esta edição de Um Pouco Mais de Azul. Taxa, ou tarifa, poderia vir a propósito de tacho ou até de corrupção, mas vem ao caso que Donald Trump anunciou a sua fórmula do "dia da libertação", com a imposição de tarifas alfandegárias a todo o mundo (a todo o mundo, não, resistem uns territórios, como a Rússia ou a Coreia do Norte, velhos amigos). A fórmula do cálculo e a listagem dos resultados suscitaram piadas justificadas, quando se constatou que ilhas da Antártida, só habitadas por pinguins, eram explicitamente referidas na "libertação": pagariam 10% de tarifa se exportassem alguma coisa para os EUA.
A lógica desta operação pode ser resumida com um exemplo, o de Madagáscar. É um país pobre, que não importa quase nada dos EUA, mas é de longe o maior produtor mundial de baunilha, e é o que exporta para os EUA. Logo, este país tem um défice comercial com Madagáscar. Solução de Trump: tarifa de 47%. O que é que isso vai produzir? Baunilha mais cara e gelados mais caros. O consumidor norte-americano vai pagar um imposto disfarçado nesse produto e noutros efeitos inflacionários. Mas a medida provavelmente não reduz a importação de baunilha e decerto não aumenta as exportações norte-americanas para Madagáscar. Quem fica a perder? O consumidor norte-americano.
E todos nós, porque esta medida, que provoca o pânico nos mercados bolsistas – até Elon Musk ficou irritado, os seus Tesla produzidos na China vão ficar mais caros – e ainda mais incerteza económica, pode gerar uma recessão que arraste todas as economias. Recessão com inflação, ou trumpflação, é um perigo que nos ameaça.
É o que dá ter um fascista na Casa Branca.
Este texto é parte da intervenção de Francisco Louçã no podcast “Um pouco mais de azul”, onde também participam o jornalista Fernando Alves e a poeta Rita Taborda Duarte. O podcast completo aqui
