“O povo tem voz, o conselho somos nós”

21 de setembro 2012 - 23:41

Muitos milhares de pessoas em Lisboa protestaram ruidosamente em frente ao Palácio de Belém, exigindo a demissão do governo e recordando que “eles são meia dúzia, nós somos milhões”. No Porto reuniu-se uma assembleia popular e houve concentrações em Faro, Viseu, Pombal, Leiria, Braga, Funchal, Aveiro, Bragança, Évora e Coimbra.

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"Demissão, demissão!", gritou-se. Foto de Paulete Matos

Milhares de pessoas participaram da vigília diante do Palácio de Belém enquanto decorria a reunião do Conselho de Estado convocada pelo presidente Cavaco Silva a partir das 17 horas. O número, calculado em cerca de 15 mil pessoas, terá sido maior tendo em conta que havia alguma flutuação – enquanto alguns iam jantar, outros continuavam a chegar.

Os manifestantes quiseram mostrar ao presidente que o verdadeiro Conselho de Estado é o povo nas ruas, e por isso gritavam “O povo tem voz, o conselho somos nós”, e avançavam a decisão das ruas: “Demissão, demissão”, ou “Passos e Gaspar, façam as malas e ponham-se a andar”. Em todo o país houve protestos semelhantes, que mais uma vez marcaram o caráter nacional do movimento iniciado pelo anúncio feito por Passos Coelho de novas medidas de austeridade. No Porto, várias centenas de pessoas fizeram uma assembleia popular. Houve também concentrações em Faro, Viseu, Pombal, Leiria, Braga, Funchal, Aveiro, Bragança, Évora e Coimbra.

Em Lisboa, mais uma vez a criatividade marcou a mensagem enviada ao presidente atrvés de cartazes improvisados: “Sr. Polícia estamos a ser roubados”, “A Passos do abismo”, “Mãe angustiada”, “Atear o Cavaco”, Eles são meia dúzia, nós somos milhões”, “”Adultos ao poder!”. Os Precários Inflexíveis tinham uma grande faixa que dizia: “Troika, Governo – RUA!”.

Entre as palavras de ordem mais gritadas estavam: “Cavaco, escuta, o povo está em luta!”, “Vítor Gaspar, és muito lento a falar e quando abres essa boca dás orgulho a Salazar”. Mas o grito favorito era sem dúvida: “Gatunos, gatunos!”.

Tal como previsto, perto das 18 horas foi cantada a canção “Acordai", de José Gomes Ferreira e Fernando Lopes-Graça, uma das músicas cantadas pelos presos políticos antes do 25 de abril.

Entre os milhares de presentes estava a deputada Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, que afirmou que aquela manifestação "mostra a democracia a funcionar" e sublinhou que Cavaco Silva deve ouvir o povo, que pretende a demissão de um governo "sem capacidade, legitimidade e autoridade". Também estiveram presentes a deputada Ana Drago, do Bloco, o deputado Miguel Tiago, do PCP, e a vereadora Helena Roseta da Câmara Municipal de de Lisboa. A Comissão de Trabalhadores da RTP marcou presença com uma bandeira e uma faixa contra a privatização.

A cada sinal de movimentação no Palácio, as vaias e assobios sobrepunham-se a tudo o mais. A maioria dos 19 conselheiros já se manifestou publicamente contra as alterações à TSU anunciadas por Passos Coelho. Antes da reunião, Cavaco Silva disse que era preciso ouvir o país e lembrou que nenhuma medida foi ainda aprovada.