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Vitória histórica da esquerda nas presidenciais colombianas

Gustavo Petro, da Coligação Pacto Histórico, foi eleito este domingo presidente na segunda volta das eleições. Será o primeiro presidente de esquerda na história do país e diz que é “dia de festa para o povo” pela “primeira vitória popular”.

A esquerda obteve este domingo na Colômbia uma vitória histórica mas renhida. Com 99,79% dos votos contados, Gustavo Petro, da Coligação Pacto Histórico, é dado como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais com 50,48% dos votos correspondentes a 11.274.343 votos até ao momento. Rodolfo Hernández, apresentado como o “Trump colombiano”, fica com 47,26%, isto é 10.554.561 votos.

Nas suas redes sociais, Petro reivindica a vitória escrevendo que “é dia de de festa para o povo. Que se festeje a primeira vitória popular. Que tantos sofrimentos se amorteçam na alegria que hoje inunda o coração da Pátria”.

Quem é o novo presidente da Colômbia?

Gustavo Petro foi guerrilheiro na sua juventude. Depois fez toda uma carreira política mais tradicional, tendo sido deputado, senador e várias vezes candidato presidencial. Formado em Economia, tem como prioridade “democratizar a economia” do país.

Nasceu em Ciénaga de Oro, na província de Córdoba, a 19 de abril de 1960. Aos 17 anos juntou-se ao grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril.

Forma-se em economia e assume cargos políticos enquanto ainda faz parte da guerrilha. Conhecido como "Comandante Aureliano", nome retirado da personagem de Gabriel García Marquez nos "Cem Anos de Solidão", é ao mesmo tempo vereador de Zipaquirá. Ainda nestas funções, em 1985, é preso pelos militares e torturado. Só em 1987 será libertado.

No âmbito do processo de paz, é um dos fundadores do partido Alianza Democrática M-19. E em 1991 torna-se deputado. Em 1994, na sequência de ameaças de morte, decide sair do país. No estrangeiro, estuda Meio Ambiente e Desenvolvimento Populacional da Universidade Católica de Lovaina e faz um doutoramento na Universidade de Salamanca.

Regressa ao parlamento em 1998 pelo Movimento Vía Alterna, uma dissidência da Alianza Democrática. Ao longo de toda sua vida política, o passado como guerrilheiro é-lhe apontado pelos adversários. Contudo, define-se como "social-democrata" e moderado.

Entre 2006 e 2009 é senador pelo Polo Democrático Alternativo, tornando-se conhecido pelas denúncias de corrupção e de ligações entre políticos e grupos paramilitares. Renuncia ao cargo para tentar pela primeira vez a eleição presidencial. O resultado é relativamente modesto: cerca de 9% dos votos. Não desiste da política, sai do PDA, cria um partido chamado Movimento Progressista e consegue ganhar a presidência da Câmara de Bogotá, cargo que ocupa a partir de 2012. Neste mandato, inaugura um Centro de Cidadania LGBTI, cria a Secretaria da Mulher, centros de controlo da natalidade, e de apoio à toxicodependência, avança com a proibição de armas de fogo, aumenta o abastecimento de água, cria centenas de creches, deixa de alugar a praça de touros local para touradas, apesar desta decisão ter sido depois considerada inconstitucional. No final de 2013, inicia-se um braço de ferro com a Procuradoria Geral que o destitui do cargo, acusando-o de afetar a saúde pública no âmbito de uma crise na gestão dos lixos. De recurso em recurso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos decide a seu favor mas o Conselho de Estado decide mesmo retirar-lhe o cargo. É o Tribunal Superior de Bogotá que volta a intervir para obrigar o presidente da República a anular a sua decisão e volta assim à presidência da Câmara.

Em 2018, volta a candidatar-se à presidência. Chega aos 25% dos votos, o que lhe vale a passagem à segunda volta mas então, com 41,77% perde para Iván Duque. Atualmente era outra vez senador.

A Colômbia Humana, a União Patriótica e o Partido Comunista Colombiano juntaram-se na coligação Pacto Histórico para o candidatar à presidência novamente. Para vice-presidente é escolhida Francia Márquez, uma ativista afro-colombiana feminista, defensora dos direitos humanos e do ambiente de 40 anos.

Ao celebrar a vitória, na sua conta do Twitter, deixa claro ao que vem: "isto é pelas nossas avós e avôs, pelas mulheres, pelos jovens, pelas pessoas LGTBIQ+, pelos indígenas, pelos camponeses, pelos trabalhadores, pelas vítimas, pelo meu povo negro, pelos que resistiram e pelos que já não estão... Por toda a Colômbia. Hoje começamos a escrever uma nova história!"

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