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Violência na recruta: Bloco quer explicações da ministra

Uma recruta do Regimento de Apoio Militar de Emergência denunciou ter sido alvo de agressões e castigos físicos quando estava diagnosticada com rabdomiólise. Bloco questionou Helena Carreiras, que deu ordem para abertura de novo inquérito às práticas violentas.
Foo Exército Português/Facebook.

Uma reportagem publicada esta sexta-feira no Diário de Notícias revela mais um episódio de violência no seio das forças armadas. A vítima, identificada como Catarina, entrou na recruta do Regimento de Apoio Militar de Emergência, em Abrantes, com uma das melhores notas.

Segundo o seu relato, na segunda semana da recruta o esforço exigido levou-a ao hospital com uma crise de taquicardia e apesar de lhe ter sido prescrita uma baixa de três dias, ao segundo dia, alegadamente por ter limpado mal a arma, foi obrigada a rastejar pelo chão de terra à noite, por vários metros.

O jornal relata que a recruta foi atingida por uma pedra que terá vindo da direção onde se encontrava o sargento instruto e que lhe acertou na cara, junto ao olho que ficou inchado. Nessa noite a recruta e outras duas recrutas do sexo feminino receberam ordens para ir limpar a caserna masculina, sob a justificação de que "os rapazes não a limpavam em condições".

No hospital das forças armadas foi-lhe diagnosticada "rabdomiólise", uma doença que destrói as fibras musculares e pode ser causada por excesso de atividade muscular, normalmente associada à intensidade do esforço físico. Já após este diagnóstico foi forçada a um conjunto de práticas de exercício intensivo que relata como castigos vários, nomeadamente enquanto se encontrava com infeção covid-19. Terá ainda sido vítima de agressões por parte de outra recruta.

Os castigos físicos sofridos por esta e outras recrutas terão sido levados a cabo no âmbito de uma praxe que na gíria denominam de "Formação Orientada de Desenvolvimento de Atitudes" em referência ao acrónimo "F.O.D.A"s".

Bloco pede explicações, ministra abre novo inquérito

Face a esta denúncia, a deputada bloquista Joana Mortágua questionou a ministra da Defesa sobre o conhecimento por parte da tutela desta situação em concreto e as medidas e investigações feitas até à data. E pergunta ainda se Helena Carreiras considera ser uma "prática admissível nas forças armadas" castigos que colocam em causa a integridade física ou exercícios incompatíveis com diagnósticos e baixas prescritas pelo hospitaldas forças armadas. Por fim, a deputada bloquista quer saber se a ministra considera admissível que as recrutas sejam obrigadas a limpar as casernas dos recrutas do sexo masculino.

Em comunicado, o Ministério da Defesa diz ter sido "com grande preocupação" que tomou conhecimento das práticas violentas "aparentemente muito mais graves do que as que constavam do processo de averiguações e processos disciplinares já em curso pelo Exército naquela unidade militar". A ministra revela que foi aberto "um novo processo urgente de averiguações" e sublinha que "repudia veementemente comportamentos atentatórios da dignidade das pessoas, que são totalmente inaceitáveis e incompatíveis com os valores e
princípios fundamentais que norteiam as Forças Armadas e o trabalho quotidiano dos militares que nelas servem".

Questionada pelos jornalistas este sábado de manhã à saída de uma reunião com trabalhadores da TAP, Catarina Martins reafirmou que "nós não aceitamos o assédio em lugar nenhum, muito menos podemos aceitar que aconteça nas Forças Armadas".

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