Esta segunda-feira, funcionários da Câmara de Setúbal e elementos da GNR cumpriram a ordem camarária para a retirada de todas as vedações e portões que impediam o acesso ao Parque de Merendas da Comenda, na serra da Arrábida. Segundo o Diário de Notícias, enquanto as cercas eram removidas, ouviram-se aplausos de populares e membros da Associação de Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado.
A ação da Câmara era esperada desde que foram afixados no local avisos para os proprietários retirarem todas as vedações e portões que impedem o acesso ao local no prazo de cinco dias. A Seven Properties, que adquiriu os 600 hectares da herdade da Comenda em 2019, não cumpriu a ordem da autarquia.
A vedação do Parque de Merendas, um local frequentado pela população, foi contestada em tribunal e na rua, com uma manifestação que juntou centenas de pessoas logo a seguir a esta ação da Seven Properties. A autarquia setubalense, que em 2019 tinha gasto 130 mil euros em obras no parque, com instalação de novas mesas, bancos e instalações sanitárias, também se opôs à vedação deste espaço que embora sendo propriedade privada sempre teve acesso público.
Joana Mortágua: “O que aconteceu na Comenda não é caso único nesta região”
Também presente no momento da retirada das vedações, “em solidariedade com o movimento de cidadãos que tem lutado pelo direito de acesso da população ao parque de merendas da Herdade da Comenda”, esteve a deputado do Bloco de Esquerda Joana Mortágua.
“O que aconteceu na Comenda não é caso único nesta região, sobretudo nesta região litoral que vai desde a Arrábida até Melides, onde há várias contendas com fundos imobiliários, fundos privados, que reclamam fazer negócios em determinadas zonas que deveriam ser protegidas para usufruto público e que sempre foram de usufruto público”, disse a deputada do Bloco, citada pela agência Lusa.
Também Miguel Maldonado, do Movimento de Cidadãos pela Arrábida e membro da associação Zero, esteve no local para testemunhar o que chamou de “um pequeno passo” numa luta “que não termina agora”. “Quando a Seven Properties adquiriu a Herdade da Comenda, percebi logo o que estava aqui em causa – o direito do usufruto público do parque de merendas da Comenda”, disse o ativista, que prevê “uma luta longa”, a contar com os recursos da Seven Properties em tribunal. No entanto, “estou confiante que, no final de todo este processo, mesmo que não seja uma vitória completa, haverá, sem dúvida, uma vitória, porque o parque de merendas – e basta olhar para a ribeira para percebermos - é domínio público”, defendeu Miguel Maldonado em declarações à Lusa.
Notícia atualizada às 14h20 com declarações de Joana Mortágua e Miguel Maldonado
