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Um flerte português com o genocídio
A recuperação da economia é um assunto crucial do pós pandemia. Para a Europa e o Brasil, o Acordo de Livre Comércio entre a UE e o Mercosul é um dos assuntos mais importantes quando se fala em economia. Segundo dados divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Mercosul (União Aduaneira entre a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a UE representam, somados, PIB de cerca de 20 biliões de dólares, em português europeu, que é aproximadamente 25% da economia mundial, com um mercado de aproximadamente 780 milhões de pessoas.
Negociado há mais de vinte anos, o acordo, que precisa ser ratificado pelos países que compõem a União Europeia, é o objetivo imediato do Governo Bolsonaro. Apesar de parecer uma excelente jogada económica, com muitos atrativos e poucas desvantagens, a verdade é que esse acordo coloca em causa a preservação da maior floresta tropical do mundo, bem como as comunidades originárias que nela vivem.
De forma direta, a ratificação do acordo criará pressão em comunidades indígenas e tradicionais dentro da Amazónia, expandirá a fronteira mortífera do agronegócio implacável e antiético brasileiro e provocará, sem exageros, um banho de sangue que poderá culminar na perda de etnias inteiras. Se ratificado, os países que compõem a União Europeia não poderão afirmar surpresa com as consequências nefastas do acordo, sobretudo quando o atual governo, do maior país que integra o Mercosul, não oculta as suas claras posições genocidas e ecocidas.
Na verdade, é importante lembrar que o próprio chefe de estado Português não só se encontrou, mas também chamou de “irmão” a um presidente que já comparou indígenas e negros a animais. O flerte do estado português, seja representado por Marcelo e suas selfies, ou seja representado por um Primeiro Ministro em cima do muro, com um declarado genocida, coloca em dúvidas a posição que o governo português está entre reconhecer o que é mais importante: vidas ou um acordo económico.
Não ratificar o acordo entre a UE e o Mercosul não é apenas uma questão de evitar o genocídio de diversas comunidades originárias e tradicionais na floresta amazónica, tampouco resume-se apenas à preservação dos já fragilizados ecossistemas da América Latina. Mas trata-se, também, da preservação da própria vida humana, uma vez que a destruição desses ecossistemas, sobretudo da Amazónia, acentuarão a Emergência Climática que já vivemos.
A ratificação deste acordo, portanto, não é apenas ao dedo de líderes europeus, que ajuda a pressionar o gatilho da arma que atira e extermina povos tradicionais da América do Sul. Mas é também, a longo ou médio prazo, a assinatura da sentença de extinção de toda a espécie humana.
Artigo de Abel Rodrigues, ativista socioambiental da Greve Climática Estudantil e do Fridays For Future Brasil, coordenador do fundo SOS Amazónia
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