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Troika aperta o garrote à Grécia e exige mais austeridade

As reformas que o governo grego apresentou em Bruxelas são assumidas pelos credores como uma "base positiva", mas não suficiente. FMI, BCE e UE clamam por despedimentos em massa, aumento do IVA, cortes nos salários e nas pensões. O executivo liderado por Alexis Tsipras tem-se recusado a aceitar estas exigências.

O jornal Ekathimerini dá conta de que o Fundo Monetário Internacional (FMI), União Europeia (UE) e Banco Central Europeu (BCE) insistem na receita da austeridade, que “já provou o seu fracasso”.

Durante as negociações que decorrem desde sexta feira, os credores não mostraram vontade de aceitar a lista de reformas que não incluem medidas com impacto recessivo, e que preveem, nomeadamente, a modernização do modelo de cobrança de impostos, a intensificação da luta contra a evasão fiscal, a venda de licenças de jogo on-line, e o aumento da taxa máxima do imposto sobre os rendimentos de 42% para 45%. O FMI, BCE e UE exigem, por sua vez, despedimentos em massa na função pública, cortes nos salários e pensões e um ataque feroz aos direitos laborais.

A porta voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou aos jornalistas esta segunda feira que as negociações durante o fim de semana foram construtivas, mas que os vários lados "ainda não chegaram lá". Schinas avançou ainda que as equipas técnicas das instituições teriam de realizar mais averiguação em Atenas.

Entretanto, Alexis Tsipras irá esta segunda-feira ao fim da tarde ao parlamento dar conta do andamento das negociações.

Pagamento da última tranche de financiamento depende de acordo

Segundo esclareceu este domingo o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, durante uma entrevista ao jornal To-Vima, o programa delineado pelo executivo de Alexis Tsipras permitirá um excedente orçamental primário de 1,5% do PIB em 2015. As reformas previstas somam 3 mil milhões de euros em receitas em 2015, permitindo um crescimento de 1,4% este ano.

Um acordo com os credores com base nesta proposta garante o total ou uma parte da última parcela de financiamento de 7,5 mil milhões de euros, sendo que esta parcela é fundamental para cobrir as despesas que o executivo helénico enfrenta já no próximo mês. Em abril, o governo terá de desembolsar um total de 3 mil milhões de euros: 448 milhões para o FMI (9 de abril), 1,4 mil milhões para reembolsar as Obrigações do Tesouro a 6 meses (14 de abril), 1000 milhões para reembolsar as Obrigações do Tesouro a 3 meses (17 de abril). A esta despesa acresce ainda uma quantia entre 1000 e 2000 milhões, necessária para o pagamento de salários e pensões.

Confronto com uma “Europa germanizada”

Nos últimos dias, representantes do governo grego têm vindo a afirmar que não evitarão o confronto caso as negociações não cheguem a bom porto.

Numa entrevista ao jornal Kefalaio, o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, defendeu que é cada vez mais claro que a única forma de a Grécia enfrentar a crise é “através da confrontação, senão colisão, com uma Europa germanizada”.

Já Euclides Tsakalotos, ministro-adjunto para as relações económicas internacionais, afirmou, em entrevista ao jornal Guardian, que a Grécia não vai abandonar a sua filosofia anti-austeridade em troca de apoio financeiro. Garantindo que a Grécia quer chegar a um acordo, Tsakalotos sublinhou, contudo, que o governo pode considerar outras opções, dependendo dos resultados dos próximos dias. "Estamos a trabalhar no espírito de compromisso, queremos uma solução, mas se as coisas não correrem bem teremos de ter em mente o pior cenário também. Essa é a natureza das negociações”, avançou.

Grécia intensifica relações com Rússia e China

Numa entrevista ao diário Avgi, o porta-voz do governo grego Gabriel Sakellaridis referiu que “tanto a China quanto a Rússia são forças económicas e geopolíticas extremamente importantes”.

É óbvia a vontade de cultivar a melhor relação possível com o objetivo de garantir a paz e a estabilidade, e promover a cooperação internacional. Particularmente no que diz respeito à cooperação económica, uma prioridade chave do governo passa por desenvolver o comércio e atrair o investimento da China e da Rússia”, adiantou.

Esta priorização das relações com a China e Rússia é bem patente nas visitas diplomáticas levadas a cabo pelo vice primeiro ministro grego, Yiannis Dragasakis, e pelo ministro dos Assuntos Estrangeiros, Nikos Kotzias, e pelo ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, respetivamente.

Na semana passada, numa visita de quatro dias à China, Yiannis Dragasakis e Nikos Kotzias procuraram fortalecer e aprofundar as relações entre os dois países. O processo de privatização do Porto de Pireu foi uma das matérias abordadas, tendo o governo chinês reforçado o seu interesse neste negócio.

Já o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, iniciou esta segunda-feira uma visita de dois dias à Rússia, durante a qual irá pedir a Moscovo que baixe os preços do gás fornecido às famílias gregas e que permita que produtos como frutas frescas voltem a ser importados pela Rússia.

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