A acção de luta que teve lugar esta quinta feira em Lisboa, Entroncamento, Barreiro, Faro, Coimbra e Porto, e que juntou trabalhadores ferroviário no activo e reformados e seus familiares, constitui uma forma de protesto “contra as medidas de redução de salários e pensões, destruição da contratação colectiva e retirada de direitos, entre os quais o direito ao transporte, existente como contrapartida de trabalho à mais 100 anos”.
No Entroncamento foi bloqueada, mediante uma ocupação pacífica das linhas férreas, a circulação de cerca de uma dúzia de comboios entre as 16h e as 20h30. Segundo adiantou João Azevedo, do Sindicato dos Ferroviários, à agência Lusa, a iniciativa reflectiu “a indignação que se vive" na classe ferroviária, tendo destacado os "inqualificáveis desinvestimentos" no setor e a "perda de direitos conquistados ao longo de muitos anos".
Em Coimbra, os manifestantes ocuparam um comboio Alfa Pendular que circulava no sentido Porto – Faro, retendo-o na estação durante duas horas. Durante o protesto foi detido um sindicalista por, alegadamente, se ter recusado a identificar-se.
Também no Barreiro um comboio foi "ocupado simbolicamente". Já no Porto, algumas centenas de manifestantes impediram temporariamente a circulação de dois comboios no sentido sul - norte.
Em Lisboa, cerca de 200 manifestaram-se em frente à administração da CP em Lisboa. Durante a acção, os manifestantes fizeram referência ao deputado do CDS Hélder Amaral que, na quarta feira, declarou no parlamento que os ferroviários fizeram, no ano passado, 295 dias de greve, dando a entender que só teriam trabalhado 70 dias, quando a realidade é que os mesmos fizeram greve apenas às horas extraordinárias.
Na sua intervenção, o coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), José Manuel Oliveira, frisou que a “família ferroviária” está de luto “pelo facto de este sistema de transportes que é seguro e que devia prestar um serviço de qualidade à população estar a ser destruído todos os dias, nas suas mais diversas vertentes”.
Em declarações ao jornal Público, José Manuel Oliveira esclareceu ainda que “não estava previsto impedir a circulação de comboios, mas entende-se: as pessoas estão muito revoltadas”.
Esta sexta feira, poderão ser anunciados “outros protestos, nomeadamente outras lutas viradas para o interior da empresa, na forma de greves a decorrer na primeira semana de março, enquadradas numa semana de lutas no setor dos transportes e comunicações, a culminar, depois, com uma manifestação no dia 9 de março”.
As organizações de trabalhadores e reformados ferroviários, que têm vindo a explicar aos utentes as razões que motivam as greves que têm protagonizado, a origem da dívida da empresa e as razões que levam o governo a querer privatizar a CP, apelam também à mobilização para as manifestações enquadradas na Jornada de Luta convocada pela CGTP para o próximo sábado, dia 16.
Estas manifestações “têm que ser também entendidas como mais uma forma de luta dos ferroviários”, frisam, defendendo que é necessário“lutar por uma País justo e solidário” e “exigir a demissão do Governo e a construção de uma alternativa política que não reduza os salários, não corte nos direitos, dinamize a contratação colectiva como factor de progresso social e de construção da paz social nas empresas e que alargue os direitos sociais de quem trabalha”.
Bloco quer ver assegurado direito ao transporte ferroviário de trabalhadores e familiares
Neste dia de "Resistência e Luto da família ferroviária”, o Bloco de Esquerda apresentou, na Assembleia da República, um projecto de resolução no qual reivindica que o governo “cumpra os direitos resultantes dos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho e contratos de trabalho, nomeadamente o direito ao transporte ferroviário de trabalhadores e familiares”.
“Uma das revindicações mais presentes nos vários protestos tem sido a do cumprimento dos direitos contratuais, em particular o direito ao transporte ferroviário de trabalhadores e familiares”, refere o documento, lembrando que “com a aprovação e entrada em vigor do Orçamento de Estado para 2013, o direito ao transporte ferroviário de trabalhadores e familiares foi retirado”, tendo o governo destruído, desta forma, “um direito conquistado pelos trabalhadores há mais de 100 anos, e, uma vez mais”, sobreposto “as suas medidas de austeridade recessiva aos direitos consagrados constitucionalmente pela contratação colectiva”.
A Câmara Municipal do Entroncamento aprovou, entretanto, uma Moção apresentada pelo vereador do Bloco de Esquerda, Carlos Matias, na qual a autarquia “regista o seu protesto veemente pela retirada das concessões a ferroviários, famílias e reformados da ferrovia”, defendendo que se trata “de um enorme ataque às condições de vida das famílias de ferroviários e, inclusivamente, à mobilidade dos reformados”.