A manifestação desta quarta-feira voltou a juntar muitos cidadãos de Viana do Castelo, solidários com os mais de 600 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) que estão desde 2011 praticamente parados. A tentativa do Governo em privatizar a empresa esbarrou no processo da Comissão Europeia, que investiga as ajudas do Estado aos ENVC entre 2006 e 2010, avaliadas em 180 milhões de euros. O processo afastou a empresa brasileira interessada e sobrou apenas uma concorrente russa.
"Apelamos para que pare o processo de reprivatização e viabilize a empresa, o que passa por colocar a empresa a trabalhar, começando a construir os navios asfalteiros para a Venezuela. Só depois deve pensar numa solução empresarial mais adequada", afirmou o porta-voz da comissão de trabalhadores à agência Lusa. Os trabalhadores dos ENVC apontam várias alternativas à venda dos estaleiros: a "viabilização" da empresa e a "manutenção no setor empresarial do Estado", mas "com uma administração com visão de futuro e uma direção comercial que não fique à espera que as encomendas caiam do céu".
Os manifestantes aprovaram uma moção que denuncia o "terrorismo psicológico imposto" aos trabalhadores e exige o "cancelamento imediato" do "moribundo e maquiavélico" processo de privatização dos estaleiros. Num protesto em que se destacava uma grande bandeira da Venezuela, os trabalhadores voltaram a apelar a Passos Coelho para visitar os estaleiros e prometeram rumar a Lisboa caso o primeiro-ministro não encontre espaço na agenda até ao fim do próximo mês.
Presente no protesto, Arménio Carlos afirmou que "a CGTP, aconteça o que acontecer, não vai deixar cair esta causa, que é dos trabalhadores dos estaleiros, do povo do norte e, acima de tudo, do povo português". "É altura do Governo assumir as suas responsabilidades e dizer publicamente se está com a indústria, com Viana e com os estaleiros. Não basta falar de reindustrialização, é preciso ter projetos e aproveitar a mão-de-obra que temos", sublinhou ainda o líder da CGTP.
Esta quarta-feira, o ministro da Defesa declarou aos deputados que "não costuma haver decisões" em menos de seis meses neste tipo de investigações e que ela "inquina de forma dramática" a privatização que o Governo preparava. Durante a reunião, a maioria e o PS trocaram acusações sobre a responsabilidade pela situação atual dos estaleiros. A deputada bloquista Mariana Aiveca condenou este "jogo do empurra sem nenhuma solução à vista" e defendeu a manutenção da empresa na esfera pública e com uma estratégia de viabilização assumida pelo Estado.