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Só mudança radical evitará extinção sem precedentes, avisa relatório da ONU

Relatório intergovernamental coordenado pela ONU alerta para uma perda de biodiversidade sem precedente na história humana, que apenas uma mudança radical a nível tecnológico, económico e social poderá mitigar.
Foto de Christian Ziegler/PLOS.
Foto de Christian Ziegler/PLOS.

A biodiversidade está a decair a um ritmo sem precedente na história humana e a extinção de espécies está a acelerar. O alerta, se já é familiar para muitos, ganhou um novo peso ao ser reconhecido num relatório global sobre biodiversidade (Global Assessment Report on Biodiversity and Ecosystem Services) do IPBES, um painel intergovernamental que reúne mais de 130 governos sob a égide da ONU. Apresentado esta segunda-feira, o relatório distingue-se pela linguagem forte num meio onde costuma imperar a contenção.

O relatório constituirá o novo estudo de referência na área, reunindo o trabalho nos últimos 3 anos de quase quinhentos autores em 50 países, que passam em revista os dados de 15 mil fontes científicas e governamentais. As mais de 1500 páginas do relatório completo estarão disponíveis dentro de meses, Entretanto, os dados já disponíveis são sonantes.

Segundo o relatório, um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção num prazo de poucas décadas, cenário nunca antes verificado na história humana. No capítulo das perdas irrecuperáveis, desde o século XVI 680 espécies vertebradas já se extinguiram. Desde o início do século XX, a abundância de espécies nos habitats terrestres desceu pelo menos 20%, enquanto nos mares perto de um terço dos mamíferos, dos corais, e 40% dos anfíbios estão ameaçados.

As principais causas desta extinção de origem humana em curso são, por ordem decrescente, as transformações no uso dos solos e mares, a exploração direta de organismos, as mudanças climáticas, e as espécies invasoras. Em relação ao primeiro e maior fator, mais dados sonantes: mais de um terço da superfície terrestre do planeta e 75% da água doce são agora utilizados na produção agrícola e pecuária; três quartos do ambiente terrestre e dois terços do ambiente marítimo considera-se agora alterado profundamente pela intervenção humana. Mais preocupante, apesar dos avanços técnicos a produtividade global da terra desceu 23%, entre outros fatores devido à perda de insetos que desempenham um papel crucial na polinização de plantas. Nos mares, um terço das reservas de peixes estão a pescar-se a níveis insustentáveis, e 60% no limite máximo da sustentabilidade.

Com estes dados, o coordenador do IPBES Robert Watson foi lapidar nas conclusões: "a saúde dos ecossistemas da qual dependemos não só nós como todas as espécies está a deteriorar-se mais depressa que nunca. Estamos a delapidar o fundamento global das nossas economias, sustento, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida". Mas acrescentou que ainda é possível evitar o pior se se impuser rapidamente uma "mudança transformadora", que definiu como "uma reorganização fundamental e sistémica dos fatores tecnológicos, económicos e sociais, incluindo de paradigmas, objetivos e valores".

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