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Sem uma mudança radical, o actual desenvolvimento da China não tem futuro

Devido à enorme população, aos recursos escassos e às restrições ambientais, sustentar o actual modelo económico da China está fora de questão, diz Zhou Tianyong, da Escola Central do Partido.
Se usar o padrão de consumo moderado de energia dos países desenvolvidos, espera-se que, em 2040, a China consuma 50% da energia mundial. Foto de Quinn Ryan Mattingly

[Nota do Editor: Nesta análise cheia de números, o Professor Zhou Tianyong da Escola Central do Partido (Central Party School) apresentou um previsão perturbadora do futuro da China. O crescimento e envelhecimento da população, as terras sobreexploradas, a escassez de água, o aumento da poluição e a fome voraz de aço e petróleo, não são exactamente aquilo que os líderes chineses querem ouvir. “Sustentar o modelo de desenvolvimento de alto consumo de energia, alta poluição e delapidação de recursos,” escreve Zhou, está “absolutamente fora de questão.” O texto seguinte é uma tradução de excertos do seu artigo.] [1]

1) Encruzilhada: Sobre a População e uma Política de Controlo de Natalidade Mal Feita

No final de 2009, a população da China era de 1.334 milhões. Em 2040, uma estimativa conservadora põe o número em 1.550 milhões. O valor dos terrenos agrícolas per capita coloca a China em sexto lugar a contar do fim. Baseando-nos na população agrícola chinesa, o valor per capita de terrenos aráveis é o terceiro mais baixo do mundo, atrás do Bangladesh e do Vietname.

Na Zona Ocidental, apenas 5% da população vive em 64% do território; os restantes 95% estão concentrados na Zona Oriental, que corresponde a 32% da área total da China. A densidade populacional da Zona Oriental é de 364 habitantes por km2. É o número três do mundo, atrás do Bangladesh (1102 h/km2) e da Índia (393 h/km2).

Deve a China continuar com a sua política de planeamento familiar? Ou deve fazer ajustamentos? Ou aboli-la? É um dilema. Se a China abandona a política de um filho por família, a sua população poderá exceder os 1.650 milhões de pessoas em 2040. Esta situação criará um fardo sobre o emprego, sobre os recursos e sobre o ambiente. Mas com uma população urbana sempre crescente e a política do filho único a longo prazo, este país enfrentará um sério problema de envelhecimento associada ao alto custo dos cuidados para os mais velhos, o que reduzirá a vitalidade económica nacional. Depois de 2040, a população irá provavelmente contrair-se. Uma sociedade envelhecida e em recuo resultará numa forte e prolongada depressão, com consequências catastróficas para a China nos próximos 30 anos (2041-2070). Se este cenário se tornar realidade, a China, depois de 30 anos de crescimento, mergulhará em 30 anos de declínio.

2) Recursos Naturais Sobreexplorados e Ambiente

A China tem 20% da população mundial, mas o seu território corresponde apenas a 6,44% da superfície terrestre. A maioria dos chineses vive na Zona Oriental. A China tem 1,74 milhões de km2 de deserto, ou seja, 18,12% da sua área total. Há ainda mais 300.000 km2 de deserto potencial que afecta a vida de 400 milhões de pessoas. Baseando-nos nos standards internacionais, o solo arável da China é, em geral, baixo. Apenas 6% das culturas produzem mais de 1.000kg de grão por mu (666 m2)1; um total de 3,57 milhões de km2 de terreno sofrem de erosão; mais de 10% da terra arável está poluída por água contaminada, resíduos sólidos e metais pesados; um total de 1,35 mil milhões mu de pastos tornaram-se deserto ou lixeiras.

As nascentes de água são insuficientes e estão gravemente poluídas. A escassez de água para as culturas é de 30 a 50 milhões de m3 por ano; a escassez das águas industriais é em média de 6 milhões de m3, causando perdas de 200 mil milhões de yuans; das 667 cidades chinesas, 420 sofrem de falta de água. A escassez total nas cidades é de 10,5 mil milhões de m3.

A poluição da água nas áreas rurais causa uma deterioração rápida, o que não é possível salvar economicamente. A poluição por fertilizantes químicos, pesticidas e águas residuais industriais, é normal. Irrigação usando água contaminada por esgotos, tratamento impróprio para os resíduos animais, e o lixo doméstico contribuem directamente para piorar o ambiente. Quase toda a população rural, que representa 700 milhões de pessoas, já bebeu água de má qualidade; cerca de 190 milhões bebeu água que contém químicos perigosos que excedem as medidas normais. Entre as pessoas com vários problemas de saúde, 88% podem culpar a água suja que bebem; e 33% das mortes estão relacionadas com a contaminação da água.

O problema do lixo nas cidades e no campo é severo. A China tem 600 milhões de cidadãos urbanos. Baseando-nos numa estimativa conservadora, cada pessoa produz 200 kg de lixo por ano. E no mesmo período, as cidades produzem 120 milhões de toneladas de lixo. Pelo menos dois terços dos centros urbanos estão rodeados de resíduos. Todos os anos, 80% do lixo electrónico mundial é enviado para a Ásia. De entre este, 90% vai parar à China.

3) Uma Grave Escassez de Terra

Em 2040, a diferença entre a disponibilidade de terra e a sua procura crescerá desde 856 milhões a 1.556 mil milhões de mu. O desenvolvimento urbano requer 132 milhões de mu. O transporte e preservação da água precisam de 137 milhões de mu. Contudo, a reconstrução de velhas fábricas e minas podem criar 30 milhões de mu, assim, o aumento líquido é de 107 milhões de mu.

O uso da terra no país pode ser facilitado. Como resultado, os camponeses poderão obter entre 150 milhões a 358 milhõs de mu para habitações. Se as condições para a agricultura não mudarem, a escassez de terrenos aráveis atingirá 700 milhões de mu em 2040.

4) A Escassez de Água como Forte Restrição

Em 2040, a escassez de água atingirá entre 200 a 300 mil milhões de m3. Usando o modelo japonês de conservação de água como referência, a procura agrícola, industrial, social e ecológica da China requererá 1,18 biliões de m3 de água. Este número aproxima-se da totalidade dos recursos aquíferos chineses. Mesmo que se encontre mais 10% de água fresca e se aumente o fornecimento entre 880 e 990 mil milhões de m3, a falta de água estará ainda entre 191 a 301 mil milhões de m3. É difícil importar água e será uma corda ao pescoço do desenvolvimento da China.

5) A Necessidade de Importar 10 a 18 mil milhões de Aço nos Próximos 30 Anos

Nos próximos 30 anos, a procura da China de ligas metálicas será atingida por uma quebra de entre 17,3 a 32,6 mil milhões de toneladas. Baseando-nos nos dados do autor, no final de 2004, a reserva global de ferro era 80 mil milhões de toneladas. No Livro Anual do Gabinete de Estatísticas chinês, a reserva potencial de ferro era de 22,6 mil milhões de toneladas. Assumindo um desvio de 35%, a reserva máxima de ferro será de 8 mil milhões de toneladas. Se, em 2040, a China atingir o nível de desenvolvimento económico dos países industrializados, precisará de 22% a 33% da reserva total mundial de ferro. Pressupondo que não encontrará novas minas de ferro antes de 2040, a China esgotará todas as suas reservas. Mais, necessitará de importar 17,3 a 32,6 mil milhões de toneladas de ferro.

6) A China Consumirá 50% da Energia Mundial

Se usar o padrão de consumo moderado de energia dos países desenvolvidos, espera-se que, em 2040, a China consuma 50% da energia mundial. Nos próximos 31 anos, usando um plano regrado, consumirá 61,5 mil milhões de toneladas de petróleo e 25 biliões de m3 de gás natural. Supondo que as reservas mundiais de petróleo e gás natural se mantenham ao nível de 2008, então, nos próximos 31 anos, o gigante asiático consumirá entre 26% a 40% da reserva petrolífera; e entre 2,3% a 8,1% do gás natural global. Assumindo que população será, em 2040, de 1,55 mil milhões, e a China se torna num país desenvolvido, trazendo uma grande mudança nas condições energéticas ou ao modelo de desenvolvimento, a China precisará de metade da energia total mundial.

De acordo com o “Livro Anual de Estatísticas de 2009,” a actual reserva petrolífera chinesa é de 2,89 mil milhões de toneladas; a reserva de gás natural é de 34 biliões de m3; a reserva de carvão é de 326 mil milhões de toneladas. As reservas per capita de petróleo e gás natural estão um décimo abaixo da média mundial. Mesmo sendo rica em carvão, a reserva per capita é 40% menor que a média mundial. Usando os níveis de consumo de energia de 2009, a reserva de petróleo só poderá durar 7,08 anos; a de gás natural 39 anos e a de carvão 108 anos.

Devido à enorme população, aos recursos escassos e às restrições ambientais, sustentar o actual modelo económico está fora de questão. Ainda que se reduza o consumo de energia para um nível moderado ou baixo, como nos países desenvolvidos, é improvável que seja viável.

[1] Zhou Tianyong, Economics Times, 16 de Julho de 2010

http://chinascope.org/main/content/view/2838/

Tradução de Sofia Gomes para o Esquerda.net

1Unidades de medida usadas na China para medir a área.

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