Secretas espiaram ilegalmente jornalista do 'Público'

27 de agosto 2011 - 15:41

SIED teve acesso aos registos telefónicos do então jornalista do 'Público' Nuno Simas para tentar descobrir as suas fontes, de acordo com a edição deste sábado do 'Expresso'. Prática é totalmente ilegal e prefigura crime. Direcção do jornal exige inquérito e diz que caso não pode ficar impune. Mas governo já disse que não vai facultar aos deputados o relatório sobre outras fugas de informação nas secretas.

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Prática é totalmente ilegal e prefigura crime

O Expresso teve acesso a seis páginas com os registos detalhados de todos os telefonemas e SMS feitos pelo jornalista entre 19 de Julho e 12 de Agosto. Na altura, o jornalista escrevia sobre tema relacionados com as secretas. Hoje, Simas faz parte da direcção da Agência Lusa. O jornalista confirmou ao Expresso que a lista é mesmo dos telefonemas que ele fez, mas não quis de momento acrescentar comentários.

O acto de espionagem terá contado com a colaboração de alguém da Optimus, a operadora do telemóvel em questão, e não teve qualquer registo interno, já que é totalmente ilegal e prefigura crime.

O Expresso afirma que o autor da iniciativa terá sido o então director-operacional do SIED João Luís, que terá enviado o registo das chamadas ao então director do órgão Jorge Silva Carvalho. João Luís, diz o semanário, já foi exonerado a 5 de Agosto por, alegadamente ter enviado informação a Silva Carvalho quando este já não era do SIED. Silva Carvalho dirigiu a instituição até 10 de Novembro, quando foi trabalhar para a empresa Ongoing.

Público considera inaceitável e pede inquérito e punição

Em nota enviada aos média, a direcção do Público considera inadmissível e inaceitável que um jornalista da redacção tenha sido objecto de uma prática desta natureza e “entende que este caso não pode ficar impune”, exigindo que “seja feito um inquérito para apurar responsabilidades e que vá até às últimas consequências”.

Bárbara Reis, directora do jornal, disse à TVI24 que esta notícia “é um News of the World ao contrário”. Para ela, “O mundo ficou chocado com o que se passou na imprensa britânica e em Portugal estamos a ver as instituições mais sérias e com responsabilidades altíssimas do Estado a espiarem os cidadãos para interesses próprios, aparentemente mesquinhos e corporativos. É absolutamente inacreditável”.

Ora é o próprio Público que informa também este sábado que o Governo não vai facultar à 1.ª comissão parlamentar as conclusões da investigação interna realizada nos serviços secretos sobre as alegadas fugas de informação para a Ongoing. O motivo invocado é que o relatório conterá dados susceptíveis de colocar em causa a segurança interna e externa. Assim, parece pouco provável que mais uma vez este caso não fique impune.

Entretanto, a direcção do Sindicato dos Jornalistas, além de manifestar toda a solidariedade para com o jornalista Nuno Simas, anunciu que “vai pedir ao procurador-geral da República e à Comissão de Fiscalização dos Serviços de Informações da República da Assembleia da República a investigação urgente e cabal dos factos denunciados”.