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Rússia mantém em maio receitas recorde na exportação de combustíveis fósseis

Nos primeiros 100 dias da guerra na Ucrânia, a Rússia arrecadou 93 mil milhões de euros na exportação de combustíveis fósseis, aproveitando em muito a escalada dos preços.
Ação da Greenpeace em março junto de um navio com petróleo russo na baía de Gdansk. Foto Greenpeace Polónia/Flickr

Desde o início do conflito que o embargo energético à Rússia foi uma discussão sensível pelos diferentes graus de dependência nacional e pelas consequências económico-sociais. As várias rondas de sanções foram prova disso mesmo. No início de abril, o primeiro embargo que foi possível acordar na UE era circunscrito ao carvão, e só no final de maio foi possível avançar com um corte ao petróleo. Mesmo assim, acordaram-se exceções que permitiam à Hungria, República Checa e Eslováquia manterem o seu abastecimento. 

Nos primeiros 100 dias da invasão da Ucrânia, a UE diminuiu as importações de gás russo em 23%. Em particular, a Alemanha reduziu em 31% e a Polónia e a Lituânia em 70%. No entanto, no mesmo período, a Rússia arrecadou 93 mil milhões de euros na exportação de combustíveis fósseis, aproveitando em muito a escalada dos preços. 

Por oposição a esta média diária de ganhos na ordem dos 930 milhões de euros, estima-se que por dia gaste 840 milhões de euros com a guerra. Recentemente o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, avançou que as exportações de combustíveis fósseis deveriam aumentar até mais 14 mil milhões de euros este ano devido ao aumento dos preços e que parte das receitas será canalizada para financiar necessidades militares. 

Mario Draghi explora novas rotas de fornecimento de gás

O centro de investigação independente CREA (Centre for Research on Energy and Clean Air) publicou na semana passada um relatório que resume as exportações russas. Mostra que a UE durante este período representa 61% das exportações de combustíveis fósseis, isto é, 57 mil milhões de euros. 

Os maiores importadores são a China (12,6 mil milhões), que manteve o seu nível de importação relativamente estável; a Alemanha (12,1 mil milhões), que o reduziu em cerca de 25%; e Itália (7,8 mil milhões), que juntamente com a Polónia, EUA, Turquia, Espanha e Japão, foi dos países que mais contribuiu para a redução das importações. 

Na passada quinta-feira, a empresa energética italiana Eni avançou que passará a receber apenas 65% do volume de gás pedido à russa Gazprom. Mario Draghi acusou a Rússia de cortar o fornecimento como chantagem política. Como consequência, os preços no mercado grossista holandês (referência para a Europa), aumentaram cerca de 30%.

Depois de em abril ter visitado a Argélia e aumentado a contratação de importações de gás, a semana passada, Draghi viajou até Israel e Palestina. Em conjunto com Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro italiano procura agora explorar os recursos da região e acelerar a construção do gasoduto EastMed-Poseidon, ligando Israel com o Chipre, Grécia e Itália.

Rússia continua a lucrar com o aumento dos preços energéticos

A maior procura devido às quebras no fornecimento russo levou os preços energéticos a subir em flecha. Os preços de exportação russos atingiram o seu pico em março e foram, em média, 60% mais elevados do que o ano anterior. Nos primeiros 100 dias, as receitas do petróleo não refinado contaram até 46 mil milhões, o gás a circular em gasodutos 24 mil milhões, seguidos dos produtos petrolíferos, GNL e carvão.

Em Maio, o volume destas exportações caiu cerca de 15% face ao período anterior à invasão, mas manteve-se um mês lucrativo pelo efeito do preço. 

Apesar de a maior parte dos países europeus ter diminuído a dependência face à Rússia, o CREA mostrou que a França, a par da Índia, China, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, chegou mesmo a aumentar as suas importações.

O CREA tinha mostrado na sua análise anterior que 23 grandes empresas petrolíferas, energéticas e da indústria continuavam a comprar combustíveis fósseis russos nos primeiros dois meses da guerra. Em maio, 15 destas continuavam a fazê-lo, entre elas estavam os grupos petrolíferos Exxon, Shell, Total, Repsol, Lukoil, Neste e Orlen.

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