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Relvas ainda está a estudar modelo de privatização da RTP

O Governo escolheu Alberto da Ponte, que liderou a Central de Cervejas e é conselheiro da EDP desde abril, para presidente da estação pública de televisão. O ministro continua sem falar sobre o futuro da RTP, mas criticou os portugueses por darem "demasiada importância aos pormenores". Entretanto, a União Europeia de Radiodifusão pediu ao Governo que "abandone os planos que visam colocar a RTP em mãos privadas".
Miguel Relvas foi apresentar o projeto "Cidade do Futebol" e aproveitou para criticar o país por dar demasiada atenção a pormenores. Foto Manuel Almeida/Lusa

Relvas foi confrontado pelos jornalistas com questões sobre a polémica no Governo quanto ao futuro da RTP quando apresentava um projeto para construir uma "Cidade do Futebol" no Vale do Jamor, em Oeiras. “Cada coisa a seu tempo. O Governo tomará a decisão com base em estudos que estão a ser definidos”, disse Relvas aos jornalistas, mantendo o silêncio sobre o modelo avançado por António Borges em entrevista à TVI de encerramento da RTP2 e concessão de um canal a privados.

“Sabemos que os pormenores são apetitosos. Mas tem sido pela importância que damos aos pormenores que Portugal muitas vezes  fica aquém daquilo que são as suas expectativas”, acrescentou ainda Miguel Relvas.

Poucas horas depois das palavras do ministro, a RTP dava a notícia da escolha do novo presidente após a saída da administração, provocada pelo mau estar gerado com as declarações de Borges. Alberto da Ponte é um gestor ocupou a liderança da Central de Cervejas de 2004 até abril passado, saindo para outras funções no grupo Heineken, que controla a empresa. Na mesma altura foi nomeado pela EDP para o seu Conselho de Ambiente e Sustentabilidade, mantendo-se como administrador não executivo da Central de Cervejas.

Alberto da Ponte foi um dos empresários entrevistado para o livro lançado pelo PSD antes das eleições legislativas. Ainda em 2010, Passos Coelho pediu ao seu conselheiro económico Pedro Reis que preparasse um guião para o programa de relançamento da economia do seu Governo, que foi editado em livro com o título "Voltar a Crescer". Após a vitória eleitoral, Pedro Reis passou de administrador da empresa de comunicação Cunha Vaz & Associados para a presidência da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), nomeado por Passos Coelho.

União Europeia de Radiodifusão apela ao recuo de Passos Coelho
O primeiro-ministro português recebeu esta quarta-feira uma mensagem do presidente e da diretora-geral da União Europeia de Radiodifusão (UER) a apelar a que Passos Coelho "abandone os planos para colocar a RTP em mãos privadas". "Confiar a gestão de um bem nacional valioso a interesses comerciais - um passo sem precedentes em qualquer parte do mundo - colocaria em risco a reputação conquistada pela RTP. Interesses comerciais e públicos seriam misturados e o pluralismo ficaria em perigo", afirmam.

"Os serviços públicos de radiodifusão não podem ser privatizados como companhias de eletricidade ou um refeitório de funcionários", prossegue a carta da UER, que refere que a despesa pública com a RTP "está bem abaixo da média europeia em proporção com os rendimentos de cada país".

Na carta endereçada também a Cavaco Silva e Miguel Relvas, Jean-Paul Philippot e Ingrid Deltenre oferecem-se para vir a Portugal discutir o assunto com o Governo "antes que seja tarde demais" e alertam que a privatização da RTP terá "um impacto significativo no conhecimento das gerações futuras acerca da cultura portuguesa". "Os membros da UER, como a RTP, partilham um conjunto de valores: trabalham para cidadãos, não para acionistas; e para a democracia, não para o lucro. É o que nos distingue dos media comerciais", declaram os responsáveis máximos da organização que junta emissoras de serviço público de 56 países.

Manifesto contra privatização ultrapassa 5.000 assinaturas
Entretanto, o Manifesto em defesa do serviço público de rádio e de televisão, lançado pelo cineasta António Pedro Vasconcelos já ultrapassou as cinco mil assinaturas e conta desde esta semana com o apoio do ex-Presidente Jorge Sampaio.

"Os signatários entendem deixar claro que, seja qual for a “solução final” proposta pelo Governo, não aceitam qualquer medida susceptível de amputar, enfraquecer ou alienar  a propriedade ou a gestão do serviço público de rádio e de televisão", conclui a adenda ao manifesto inicial, acrescentada após a polémica entrevista de António Borges sobre o modelo de concessão que o governo estudava em agosto.

http://www.emdefesadoservicopublicoderadioedetelevisao.pt/

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