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Protestos em Marrocos contra o abuso policial

Onze pessoas vão responder em tribunal pela morte de um vendedor de peixe em Al-Hoceima, um caso que despoletou uma resposta de indignação na sociedade marroquina.
Protestos em Al-Hoceima, Marrocos. Imagem Euronews.

A justiça marroquina anunciou esta terça-feira que onze pessoas vão comparecer perante o juiz de instrução para responder a acusações de homicídio involuntário e falsificação de documentos, no caso da morte de Mouhcine Fikri na passada sexta-feira.

O vídeo do incidente que levou à morte de Fikri espalhou-se rapidamente nas redes sociais e deu origem aos maiores protestos contra os abusos da polícia e do Estado marroquino sobre os cidadãos desde as manifestações por reformas democráticas em 2011. Milhares de pessoas saíram às ruas de várias cidades no passado fim de semana e os protestos em Al-Hoceima continuaram esta segiunda-feira.

O vendedor de peixe foi apanhado na noite de quinta-feira, após comprar cerca de meia tonelada de peixe espada a pescadores locais, numa altura em que a pesca desta espécie está proibida. Os delegados do ministério das Pescas  ordenaram a destruição do peixe no local e foi chamado o veículo de recolha de lixo.

Mouhcine Fikri e dois amigos tentaram impedir a apreensão do pescado, saltando para dentro do camião e foi nessa altura que alguém deu ordem ao motorista para acionar o sistema de trituração. Ao contrário dos amigos, Fikri não conseguiu sair e acabou por morrer triturado.

Não é certo que a resposta da justiça marroquina, ao tratar o caso como um homicídio involuntário rodeado de várias irregularidades administrativas, vá acalmar os protestos, que ocorrem a poucas semanas da realização da cimeira co clima COP22 em Marraquexe.

Oito dos onze notificados para se apresentarem ao juiz ficaram em prisão preventiva: “dois agentes da autoridade, o delegado da pesca marítima, o chefe de delegação do serviço de pesca marítima e o médico-chefe do serviço da medicina veterinária e três funcionários da empresa de recolha de lixo”, diz o comunicado da Procuradoria citado pela agência MAP.

O inquérito apurou que “o condutor do camião recebeu o sinal do funcionário (da empresa de recolha de lixo) para acionar a trituração” e que “não houve nenhuma ordem para agredir a vítima por parte de nenhum dos presentes”, pelo que conclui que “os atos cometidos assumem a natureza de um homicídio involuntário”.  

O caso tem semelhanças com o episódio que despoletou os protestos na Tunísia e levaram ao nascimento da “primavera árabe”. Nessa ocasião, um vendedor ambulante também morreu ao ver pela enésima vez a sua mercadoria apreendida pela polícia. Mas ao contrário de Mouhcine Fikri, o tunisino Mohamed Bouazizi decidiu suicidar-se por imolação em protesto contra o abuso de que foi vítima.

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