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Presidente do Eurogrupo admite que troika não tem "qualidade democrática"

Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, reconheceu que até ele se interroga sobre a qualidade democrática de instituições que nos aconselham", como é o caso do FMI, do BCE e da Comissão Europeia. A confissão foi feita numa Comissão do Parlamento Europeu (ECON) depois da eurodeputada Marisa Matias ter confrontado Juncker com as "medidas avassaladoras" contidas no relatório do FMI sobre Portugal.
Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, reconheceu que até ele se interroga sobre a qualidade democrática de instituições que nos aconselham", como é o caso do FMI, do BCE e da Comissão Europeia.

No âmbito da audição que quinta-feira decorreu na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários (ECON) do Parlamento Europeu, a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias (GUE/NGL) confrontou Jean-Claude Juncker com o relatório do FMI sobre Portugal divulgado na quarta-feira e no qual são avançadas "medidas avassaladoras para o Estado social, que significam despedimentos em massa, mais cortes nos salários, mais cortes nas pensões, mais cortes na saúde e educação". "Os países que estão sob planos de resgate e com programas de ajustamento veem-se com um conjunto de medidas como estas, que depois se tornam decisões finais, e que são apresentadas por entidades, como é o caso do FMI, que não têm controlo democrático", afirmou Marisa Matias. Logo a seguir, a eurodeputada questionou diretamente Juncker: "como é que vê o estarmos a assistir à destruição do Estado social na Europa através da indicação de instituições sem controlo democrático? Foi para isto que construímos o projeto europeu? Quem é que responde por isto?"

O presidente do Eurogrupo reconheceu então que também ele se "interroga sobre a qualidade democrática de instituições que nos aconselham e sugerem medidas, como é o caso do FMI, mas também do BCE ou da própria Comissão, e da OCDE". Contudo, considera que "as decisões são tomadas pelo Eurogrupo", que nunca entra "nos pormenores das medidas que os países da Zona Euro, os Estados sob resgate, têm que tomar", sublinhando que "este método não era o melhor."

Das suas declarações destaca-se aquela em que admite que caso o método adotado tivesse sido diferente poderiam ter sido evitadas medidas que "atingem sobretudo os mais desfavorecidos e poupam bastante aqueles que, enfim, têm uma situação mais favorável do ponto de vista material". Não é a primeira vez que Juncker faz este tipo de consideração, mas nada tem acontecido e ainda na quinta-feira o próprio presidente do BCE, Mario Dragui, insistiu que "não haverá recuo na austeridade".

Jean-Claude Juncker condenou ainda os países que são recetores de capitais de milionários cidadãos dos países sob resgate, e que não colaboram com as autoridades destes para pôr fim a estas atitudes, afirmando que "não é possível que uns países beneficiem com as medidas de austeridade aplicadas a outros países".

Na sua última comparência perante os deputados do Parlamento Europeu na qualidade de Presidente do Eurogrupo o luxemburguês Juncker afirmou, em suma, que para além de as instituições da troika não serem democráticas, as decisões finais sobre as medidas adotadas são dos governos.

Artigo de Cláudia Oliveira, publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu

Marisa Matias - Juncker e a qualidade democrática da Troika - 2013/01/10

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