Justiça fiscal

Portugal no top 3 das borlas fiscais a não-residentes, Governo quer recuperá-las

04 de julho 2024 - 10:59

O Observatório Fiscal da UE apresentou um relatório ao G20 que coloca Portugal na terceira posição da perda de receita fiscal para atrair estrangeiros ricos. Ministro das Finanças diz ao Financial Times que vai recuperar o regime de residentes não habituais.

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alegria no campo de golf
Foto Golfocus Lda/Flickr

Num relatório do Observatório Fiscal da União Europeia para a reunião do G20 que discutiu a tributação dos milionários, foram feitas as contas à perda de receita fiscal dos países que criaram regimes para atrair estrangeiros endinheirados. Usando os dados de 2020, o relatório diz que no caso português essa despesa fiscal, ao abdicar da receita de IRS, foi de 893 milhões de euros. Ou seja, Portugal está no top 3 dos que mais receita abdicaram, apenas ultrapassado pelo Reino Unido e pelos Países Baixos.

Segundo as contas publicadas no Jornal de Negócios, a média de poupança fiscal por beneficiário foi de 33 mil euros, em linha com a média geral. Ou seja, o que contribuiu mais para esta despesa fiscal foi o elevado número de beneficiários, que no caso dos pensionistas estrangeiros começaram por ficar isentos de imposto, tendo depois passado a pagar 10%, enquanto os restantes veem os rendimentos tributados a 20%.

O regime fiscal dos residentes não-habituais foi desde sempre contestado à esquerda, quer pela injustiça fiscal que representa, quer pelo seu impacto na subida do preço das casas e na emergência da crise da habitação. E também foi criticado pelos países de origem dos pensionistas que aproveitavam a borla fiscal para escaparem à tributação no seu país. A ministra das Finanças e depois primeira-ministra da Suécia, Magdalena Andersson, chegou mesmo a afirmar que “é muito interessante (observar) a forma como os cidadãos comuns em Portugal aceitam isto. É fascinante. Se um paciente sueco e um paciente português estiverem lado a lado num hospital (português), o português pagou impostos pelos dois, porque os suecos têm todos os direitos - cuidados de saúde, transportes públicos -, mas não pagam impostos”. E tal como a Finlândia, o governo sueco decidiu denunciar a convenção bilateral sobre dupla tributação com Portugal.

Miranda Sarmento já anuncia regresso da borla fiscal na imprensa estrangeira

No ano passado, o anterior Governo anunciou que ia retirar do Orçamento do Estado o regime para residentes não habituais, mas acabou por criar um regime transitório que permite a quem se inscrevesse até março beneficiar dele por dez anos. E criou um regime alternativo, direcionado a profissionais de setores ligados à inovação e investigação científica.

Mas o fim anunciado desta borla fiscal pode afinal não chegar a concretizar-se. Segundo o ministro das Finanças, em declarações ao Financial Times citadas pelo Expresso, o atual Governo pretende reativar esta borla fiscal para trabalhadores por conta própria ou de outrem, excluindo os rendimentos com pensões, mais-valias e dividendos. Esta e outras medidas deverão ser apresentadas em breve pelo ministro da Economia e terão de ser aprovadas depois pela Assembleia da República.