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Podemos: Errejón abre crise em Madrid e renuncia ao mandato no parlamento

Iñigo Errejón, fundador e candidato do Podemos às eleições regionais em Madrid, deixou o cargo de deputado após anunciar que irá às urnas numa plataforma eleitoral ao lado da edil madrilena Manuela Carmena.
Iñigo Errejón renunciou ao mandato de deputado após anunciar que será candidato pàs regionais pela nova lista Más Madrid. Foto Podemos ©

A poucos meses das eleições regionais e municipais, a estratégia política do Podemos em Madrid sofreu um rude golpe na semana passada, com o anúncio do seu candidato à presidência do governo regional, Iñigo Errejón, de que iria encabeçar uma lista às regionais promovida pela presidente da Câmara de Madrid e candidata à reeleição, Manuela Carmena.

Eleita em 2015 por uma plataforma formada por Podemos, Equo, PCE e independentes — a Ahora Madrid, que foi o segundo partido mais votado, com menos um vereador do que o PP —, Carmena formou com o PSOE uma maioria no governo municipal para afastar a direita do poder na capital espanhola. O desempenho de Manuela Carmena como alcaldesa de Madrid tornou-a numa das figuras políticas com maior popularidade no país. Esse capital político acumulado fê-la lançar há poucos meses uma nova plataforma eleitoral que será a base da sua recandidatura — Más Madrid, formada por pessoas da sua confiança, entre as quais vários membros do Podemos com quem trabalha na vereação municipal, em vez de integrar membros designados pelo Podemos e Izquierda Unida.

Tal como a estratégia anunciada por Carmena, também o anúncio de Errejón de que será o protagonista de um “ticket eleitoral” às municipais e regionais sob a mesma sigla não agradou à maioria da direção do Podemos, a começar pelo seu líder, Pablo Iglesias. Em resposta à vontade de Carmena em escolher os candidatos da sua lista, Iglesias afirmou estar disposto a prescindir de uma candidatura do Podemos às municipais, se tal for “a condição para que os corruptos e reacionários não voltem a governar Madrid”. Quanto aos vereadores do Podemos que aceitaram o repto de Carmena e se recusaram a apresentar-se às primárias do partido para as municipais, continuam temporariamente suspensos.

Mas a reação do líder do Podemos ao anúncio de Errejón, com quem protagonizou uma disputa política que dividiu ao meio a organização no último Congresso, não foi tão amigável. “Com todo o respeito, Iñigo não é Manuela”, escreveu Pablo Iglesias numa mensagem aos militantes, lamentando que o seu ex-nº 2 tenha escolhido o dia do quinto aniversário do partido para lhe telefonar a contar a sua decisão, minutos antes de a anunciar aos media.

Indicado por Iglesias, o nome de Errejón foi aprovado com 98% dos votos nas primárias para encabeçar a lista do Podemos à Comunidade de Madrid, em maio passado. Agora, a quatro meses das eleições, a sua passagem para a nova lista Más Madrid deixou a organização que fundou em “estado de choque” — palavras do secretário de organização, Pablo Echenique — e profundamente dividida. No grupo parlamentar do partido no parlamento espanhol, 14 dos 27 deputados apoiam Iñigo e também defendem que o Podemos, a IU e o Equo integrem a nova lista candidata às regionais, que fará as suas primárias já em fevereiro, argumentando que não faz sentido apoiar o Más Madrid nas municipais e concorrer contra ele nas regionais.

“Não vim para estar na política, vim para fazer política. E isso implica tomar decisões”, afirmou Errejón na sua despedida do parlamento espanhol. Noutras declarações, o agora ex-deputado do Podemos lembrou o resultado das eleições andaluzas para defender que a nova lista eleitoral é a resposta aos que entendem que “faz falta um estímulo, porque não acreditamos que em Espanha exista uma maioria que queira voltar ao preto e branco”.

Por seu lado, alguns autarcas e deputados regionais que integram a terceira maior sensibilidade política do Podemos — Anticapitalistas — apontam que a decisão de Errejón é coerente com as suas escolhas políticas, com a qual discordam. Num artigo publicado no El Diario, Rommy Arce e Raul Camargo afirmam que este episódio “é a constatação do colapso definitivo de um modelo de partido” e apontam também o dedo a Pablo Iglesias por “não ter sabido gerir a pluraridade do projeto”, trocando o debate político interno pela nomeação de Errejón como candidato às regionais em Madrid e adotando a linha política defendida pelo seu ex-nº2 que o próprio Iglesias derrotara no último congresso do Podemos. E propõem a abertura de um processo de primárias abertas a todo o espaço político, que inclua Podemos, IU e outros setores da esquerda e dos movimentos sociais, considerando que “nem o modelo personalista do Más Madrid nem um acordo de esquerda ao estilo do Unidos Podemos é suficiente”.

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