A associação ambientalista Zero vai entregar esta terça-feira as Ministérios da Habitação e do Ambiente e Ação Climática 315 testemunhos sobre pobreza energética recolhida em 118 concelhos do país. Entre os problemas mais destacados no inquérito online promovido pela associação estão a humidade, o bolor, as infiltrações e problemas relacionados com o facto de o país ter “muitas construções muito antigas, com fraco isolamento térmico, com janelas antigas”, disse à agência Lusa o presidente da Zero.
Francisco Ferreira diz que a maior parte dos inquiridos referiu que tem de recorrer à climatização artificial para aquecer a casa durante o inverno, apesar de muitas delas não terem capacidade financeira para o fazer, com “uma substancial maioria” a utilizar aquecimento elétrico, como radiadores a óleo, “que são muito ineficientes”, mas também o aquecimento a gás.
“Passamos pela roupa quente, pelos cobertores, pelas mantas. É, portanto, uma difícil gestão daquilo que é tentar ultrapassar estas situações de frio que durante o inverno surgem”, prosseguiu.
A Zero continua a exigir uma estratégia nacional de longo prazo para o combate à pobreza energética que afeta 20% da população portuguesa. E também uma estratégia idêntica para a renovação de edifícios, pois ambas são “elementos fundamentais para as populações mais vulneráveis que realmente não conseguem lidar com a questão difícil e complicada da pobreza energética”.
Um quarto da população portuguesa vive em casas com infiltrações ou humidade
Os casos mais greves de falta de conforto térmico, diz Francisco Ferreira, estão nas zonas centro e norte interior, entre as populações com menos rendimentos e nas construções das décadas de 1970 e 80.
Segundo os números de 2020 do Eurostat, Portugal é o quarto país europeu onde mais pessoas não conseguem pagar aquecimento adequado, com 17,5%, mais do dobro da média da UE, que é de 8,2%. Pior só na Bulgária (27,5%), na Lituânia (23,1%) e no Chipre (20,9%). Nos restantes paises do sul da Europa, os números também estão acima da média, com Espanha (10,9%) e Itália (11,1%) mais próximas dessa média e a Grécia (16,7%) mais afastada.
Os baixos rendimentos da população e a fraca eficiência energética dos edifícios são as duas causas principais do problema, agora agravado com a pandemia e o aumento do preço dos combustíveis. Segundo o Eurostat (link is external), um quarto da população portuguesa (25,2%) vivia em 2020 em casas com inflitrações, humidade ou apodrecimento nas janelas ou pavimentos.