A Lusoponte recebeu duas vezes o dinheiro das portagens de agosto da Ponte 25 de abril: dos automobilistas e do governo. Passos Coelho deu uma informação falsa a Francisco Louçã, que o questionou sobre isso, e a toda a Assembleia da República, ao afirmar: “Não há um duplo pagamento à Lusoponte, essa é a primeira coisa que quero aqui deixar clara” (veja o vídeo com as intervenções). Aparentemente, a origem da afirmação falsa do primeiro-ministro foi o secretário de Estado das Obras Públicas, que terá enviado mensagem a Passos durante o próprio debate. Chama porém a atenção a desinformação do primeiro-ministro sobre uma questão que fora levantada há quase uma semana, e que previsivelmente seria levantada no debate no Parlamento.
Em comunicado, o Bloco de Esquerda ironiza “o método original de comunicação” – o secretário de Estado emitir um comunicado a desmentir as declarações do primeiro-ministro na Assembleia da República que, segundo o próprio Passos Coelho, “tinham como base informações que lhe foram comunicadas, no decorrer do debate, pelo secretário de Estado”.
No debate quinzenal no Parlamento, o primeiro-ministro foi questionado por Francisco Louçã sobre o pagamento pelo Estado à Lusoponte de 4,4 milhões de euros como compensação pela isenção das portagens na Ponte 25 de Abril no mês de agosto. Acontece que o governo acabou com a isenção e as portagens foram cobradas dos automobilistas. Assim, a Lusoponte recebeu as portagens e também a compensação.
Passos Coelho, visivelmente atrapalhado, disse ter recebido do secretário de Estado, Sérgio Monteiro, a informação de que a Lusoponte "precisou de ser indemnizada" porque "não ficou com o resultado das portagens que foram cobradas durante esse mês" já que as receitas "foram retidas pelas Estradas de Portugal". E enfatizou que não houve duplo pagamento à Lusoponte.
No final da tarde, porém, o gabinete do secretário de Estado divulgou um comunicado em que reconhece que houve o duplo pagamento. Para o Bloco, o comunicado “desmente categoricamente” a versão do primeiro-ministro e "reafirma o teor do despacho [de Sérgio Monteiro] de 21 de novembro", que afirma que "as portagens [foram] cobradas e arrecadadas pela Lusoponte na ponte 25 de Abril durante o mês de Agosto de 2011".
"Foram cobradas pela Lusoponte, que ficou com o dinheiro e nunca o entregou", insiste o Bloco, sublinhando que "a Lusoponte recebeu duas vezes: dos automobilistas e do governo", e, assim, “a criação de portagens em agosto foi para financiar a Lusoponte e não o défice do Estado”.
"Assim, o primeiro-ministro, se repetiu no Parlamento o que o secretário de Estado lhe comunicou, foi por ele enganado”, insiste o Bloco, que diz esperar “que o primeiro-ministro saiba tirar as devidas conclusões sobre a forma como foi levado a fazer uma afirmação falsa, por via da informação errada do seu secretário de Estado". O desafio está feito.
Leia a opinião de Francisco Louçã: “O primeiro-ministro não sabe ou é enganado pelo seu governo”.